Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) – 21/1/95 – Sábado – p. 6 de 6

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 21/1/95 — Sábado

Qualquer coisa que esteja relacionada com nosso Pai e Fundador exige cuidado e tudo é preocupante: um exemplo * Nosso Senhor e Nossa Senhora irão nos acompanhar, a cada passo, durante a “Bagarre”; e quanto mais sós nós nos sentirmos, mais estarão dentro de nós, agindo em nós * A conversa toma o caráter de uma preparação; uma primeira preparação explícita, por assim dizer, oficial para a “Bagarre” * Sempre haverá incógnitas que nós teremos que enfrentar; a incógnita faz parte da majestade do nosso caminho * O relacionamento com nosso Pai e Fundador importa e acarreta consigo uma ruptura profunda com a Revolução

de outro lado tão bonito, que supõe, entre outras coisas, um senso muito grande da oportunidade.

Eu vou mostrar para você uma coisa interessante, mas naturalmente eu não quero que vocês comentem fora daqui dessa reunião. Mesmo ad intra do Grupo eu não quero que comentem.

(…)

* Qualquer coisa que esteja relacionada com nosso Pai e Fundador exige cuidado e tudo é preocupante: um exemplo

É um cilindrozinho feito de ágata, mas trabalhado internamente de tal maneira que cabe uma certa dose de água benta dentro. Eu tenho impressão que a base se desloca por uma espécie de rosca que tem, mas não tenho certeza. Eu acho aquele tubinho muito bonitinho.

Eu ouvi contar que chegou aos ouvidos do êremo que eu não gostei daquele tubinho porque achei que tinha ar de garrafa termos. O mais engraçado é que eu nunca pensei nisso, mas, enfim, se poderia achar. Mas nem tudo que tem o formato ou tem um quê de garrafa termos por causa disso perde o direito de viver. Eu, pelo contrário, só tenho elogio daquele tubinho.

Resultado: produziu uma baixa lá no Êremo da Serra da Piedade e eles cessaram de fabricar aquilo em série por causa desse meu comentário que chegou lá.

(Sr. N. Fragelli: Bom espírito deles.)

Da parte deles é irrepreensível, mas como é que apareceu isto?

É a pergunta ao que o tema se presta na ótica daqui da reunião.

(Sr. P. Henrique: Tudo é muito delicado, o que irradia do senhor é muito delicado. A transmissão disso para outros, inclusive palavras, ordens e isso tudo, tem que tomar muito cuidado, porque do contrário pode dar um… O senhor está dando um exemplo pequeno, de uma coisa que de si não poderia causar maiores danos, mas uma coisa um pouco mais séria já começa a complicar muito.)

Começa a encrenca.

(Sr. P. Henrique: Encrenca grossa.)

Portanto, isso exprime bem como qualquer coisa exige cuidado e como, no fundo, tudo é preocupante.

Dentro do caminho que vamos entrando, como é que é o nível dessas preocupações?

(…)

Mas eu tenho receio que isto para eles chegue a uma internacional e que, sobretudo, eles fiquem com medo que uma coisa tão grande escape ao controle deles.

(Sr. N. Fragelli: E como a máfia é seita, seita é sempre internacional.)

Pois é.

(Sr. N. Fragelli: E eles ficam com essa coisa na cabeça porque são martelados, martelados. Nós hesitamos justamente nesse…)

Pois é, então é melhor não mexer.

No Brasil esse negócio internacional não pega, de maneira que se poderia fazer também uma coisa assim para cá.

Eu tenho impressão de que a idéia de uma coisa com esse tamanho, com essa importância, e que encontra gente dedicada, esforçada, o sujeito não fica com medo — isso é o medo do brasileiro — de entrar no negócio, começar a se esforçar, verificar que nenhum outro é esforçado, que ele é o único crente que está dando trabalho, às vezes até um pouquinho de dinheiro que tenha para o êxito da coisa, que ninguém mais dá e ele está fazendo o papel de bobo. Isso é uma coisa que desagrada supremamente.

Evidentemente, pareceria que valia a pena no primeiro contato eles já perceberem que a coisa é daqui, num grande élan.

(Sr. G. Larraín: Isso o senhor diz aqui?)

Aqui.

(…)

um pouco sem cerimônia, pela qual a coisa apertando muito acorda e diz: “Senhor, eu sei que não deveria Vos acordar, mas tende pena de mim e aplacai essa tempestade interior, ao mesmo tempo que aplacardes essa tempestade exterior. Tende pena de mim”. E acrescentaria: “Por Vossa Mãe eu peço”.

Se eu pudesse dizer “por Vossa Mãe eu peço”, o resto todo estava arranjado.

(Sr. G. Larraín: Mas o senhor dizia, eu me lembro as palavras: “Meu filho, eu iria mais longe que Santa Teresinha, que é pôr-me a dormir junto a Ele”. Isso é propriamente o que se chama quebrar os padrões, por onde tudo o que foi santo até hoje é graminha. Depois se sente que o senhor faria isso mesmo, conforme a situação faria.)

(Sr. N. Fragelli: Nosso Senhor dominou os ventos, dominou as tempestades, mas os Apóstolos Ele não dominou e eles fizeram o que eles fizeram. Eu me pergunto se em relação a nós essa grande incógnita… como é que o senhor acha que esse passo de nós em relação ao senhor vai ser dado? Porque as feras somos nós mesmos. Eu não sei nem se o Bem-aventurado Palau narrou como é que esse grande clic que o senhor espera na história, que é a união dos seus consigo mesmo, essa grande inabitação recíproca. Eu sei que para o senhor é uma provação entrando na Bagarre tendo essa incógnita terrível.

O senhor há pouco dizia: Nós poderíamos fazer a oração: “Eu sou um canalha e fui canalha a vida inteira”. O senhor como pai nos ama muito mais do que nós, como filhos, amamos o pai que temos, a preocupação é sobretudo do senhor. O senhor vê esse grande milagre se pintar no horizonte?)

* Nosso Senhor e Nossa Senhora irão nos acompanhar, a cada passo, durante a “Bagarre”; e quanto mais sós nós nos sentirmos, mais estarão dentro de nós, agindo em nós

Vejo com toda a clareza, mas com circunstâncias.

A certeza desse milagre em Nosso Senhor… Ele era Homem-Deus e tudo o mais, conhecia, portanto, o futuro perfeitamente. Quando Ele, por exemplo, instituiu a Sagrada Eucaristia, Ele sabia que daí a pouco aqueles estavam fazendo o que fariam. Mas Ele sabia também todo o resto que nós não sabemos.

Ainda outro dia estava pensando nisso:

Eles fugiram. No extremo da Paixão, para usar termos médicos de hoje, na fase terminal da Paixão, quando Nosso Senhor estava na Cruz pregado, no extremo da dor, respirando, não se vê que Ele tenha dirigido alguma palavra a não ser a Nossa Senhora e a São João Evangelista, mas também ao bom ladrão, não se vê que Ele tenha tido uma conversa com o bom ladrão. Vê-se apenas que o mau ladrão disse coisas, fez blasfêmias e que o bom ladrão disse: “Você anda mal porque nós merecemos a pena que estamos tendo, mas ele é inocente”. Aí Nosso Senhor disse que o perdoava e depois disse: Hodie mecum eris in Paradiso — “Você hoje estará comigo no Paraíso” e acabou-se.

Nosso Senhor agiu sobre as almas dos dois ladrões, havia um diálogo mudo entre a graça e a alma de cada ladrão, por meio da qual Nosso Senhor como que conversava com os dois, e da conversa resultou a conversão de um.

Você está vendo que Nosso Senhor que estava agindo por assim dizer tão intensamente sobre aquelas almas, Nosso Senhor estava agindo também sobre as Santas Mulheres e não se sabe quantas almas nos arredores para levar à conversão, etc.

É certo para mim, mas é inteiramente certo, que Nosso Senhor do alto da Cruz acompanhou o que estava fazendo cada Apóstolo — para Ele é tão fácil quanto é para nós conversarmos aqui — e que Ele ia apoiando, estimulando, dando contrição, dando vergonha, dando tudo, para que eles, um a um, começassem a voltar talvez depois da morte. Houve aí uma ação simplesmente maravilhosa de Nosso Senhor, ação essa que as pessoas não se dão conta. Têm impressão que Nosso Senhor do alto da Cruz esqueceu aqueles Apóstolos, mas eles foram acompanhadíssimos.

Eu acho que esta é uma suposição, mas uma suposição de de toute beauté aos meus olhos, e que explica, também, como será Nosso Senhor, como será Nossa Senhora, omnia proportionis servata, cada um de nós durante a Bagarre. Vai nos acompanhando em cada passo, e quanto mais sós nós nos sentirmos, mais estarão dentro de nós, agindo em nós. E se há uma coisa que nós não temos o direito de fazer, é pensar que o olhar d’Ele, a voz d’Ele, que acompanhou nossa vida de negligências e de infidelidades com tanta paciência, com tanta bondade durante vinte, trinta anos, que na fase final nos abandone.

Não sei se eu estou claro.

(Sr. N. Fragelli: Belissimamente claro.)

Nós devemos pensar nesse relacionamento de Nosso Senhor com os Apóstolos, sobretudo tomando em consideração São Pedro. Porque Nosso Senhor passou por São Pedro, olhou, e um só olhar liquidou o caso de São Pedro.

Conta-se que São Pedro chorou tanto aquele olhar, que ele tinha sulcos no rosto das lágrimas que caíam, porque a todo o momento ele se lembrava daquele olhar e chorava.

Qual foi a preparação anterior para esse momento?

Isso fica de uma confiança para nós que se reduz ao seguinte: os que mais abandonaram foram os mais seguidos, e no vórtice de nosso abandono, de nós enquanto abandonantes, não nos sentirmos abandonados, pelo contrário, confiarmos.

(Sr. P. Roberto: Sr. Dr. Plinio, isso se dá também do senhor com relação a nós. Porque do que o senhor disse nos disse ao longo da nossa vida, nós não nos esquecemos e isso vai sempre nos acompanhando.)

Vai.

(Sr. P. Roberto: E nessas horas mais de clímax que vão existir daqui para a frente nós iremos nos lembrando disso, de maneira que o senhor nos acompanhará também.)

Se Deus quiser sim.

(Sr. P. Roberto: Por meio de todas essas lembranças e por meio, também, creio, de misteriosos e a própria presença do senhor.)

A julgar pelo que diz o Bem-aventurado Palau é possível que…

(…)

* A conversa toma o caráter de uma preparação; uma primeira preparação explícita, por assim dizer, oficial para a “Bagarre”

(Sr. Aloísio: E.e.M. posso dizer isso inclusive como testemunha, porque umas dez vezes aconteceu desde a primeira vez na Austrália. O senhor tratando temas aqui, não naquele tempo, mas antes que chegasse uma carta lá, uns três dias antes, o tema viesse à cabeça. A segunda vez que isso aconteceu foi na Austrália, mais ou menos em oitenta e três marcou muito, porque a primeira e.e.M. pensou que fosse coincidência. Lembro perfeitamente que foi a respeito dos novíssimos. Veio o assunto dos novíssimos na cabeça, e três dias depois chegou uma carta [dizendo] que o senhor estava fazendo uma série de reuniões sobres o novíssimos.

Inclusive esse ano aconteceu pelo menos umas duas vezes assim. Temas que o senhor está tratando aqui, não é na mesma data, às vezes é uns dez dias, um pouco antes de receber a notícia de São Paulo. Isso é que é muito curioso. Esse ano aconteceu de manhã veio a idéia de um certo tema, e à tarde chega uma carta [dizendo] que o senhor tinha tratado.)

Que bonito, hein!

(Sr. Aloísio: Eu posso dizer isso diante de Nossa Senhora que pelo menos de sete a dez vezes. Aconteceu na Austrália, aconteceu na África do Sul, aconteceu na Índia.)

Que bonito.

(Sr. G. Larraín: Aquele lugar de São Francisco também é muito bonito, que o senhor contou.)

(Sr. Aloísio: Outra coisa que o Sr. Gonzalo está dizendo é o seguinte: é que evidentemente tem certos lugares que tem muita bênção, que se sente que é como que a mesma bênção que, por exemplo, se sente no escritório do senhor na Sede do Reino de Maria. Eu não sei porquê, talvez por uma coisa pessoal, na Basílica de Mount Mary. Fica a cem metros da sede, que é um centro milagroso, foi fundado em 1560. Sobretudo quando a basílica está vazia, a imagem de Nossa Senhora tamanho natural muito majestosa, e que é aquele imponderável de quando o senhor está despachando no escritório do primeiro andar da Sede do Reino de Maria. É como que aquela luz, aquele ambiente, é mais ou menos aquele imponderável. Eu não sei explicar porquê, mas eu sinto aquele imponderável da presença do senhor, que cerca o senhor lá.)

Você veja, sob certo ponto-de-vista, a filosofia do caso.

Quer dizer, por obedecer à vontade de Nossa Senhora você se afasta de mim de um modo incrível, mas Nossa Senhora lhe dá momentos de maior convívio, de convívio mais intenso, momentos mais numerosos e melhores talvez do que quando você estava no Brasil.

(Sr. Aloísio: Sobretudo quando não estava junto ao senhor. Quando estava no Brasil às vezes numa sede a trezentos metros do senhor isso é certo.)

É isso.

Eu não sei se vocês notam que, mais ou menos involuntariamente e com certos ziguezagues, a conversa está tomando o caráter de uma preparação, como primeira preparação explícita e, por assim dizer, oficial. Está entrando por onde não se imaginaria que ela entraria, mas está sendo muito eficaz exatamente debaixo desse ponto-de-vista da preparação.

(Sr. G. Larraín: E sobre o futuro? Futuro nesse sentido, porque isso está ligado à parte do começo da reunião. É uma preparação, o senhor disse, para esses momentos que venham.)

Isso.

* Sempre haverá incógnitas que nós teremos que enfrentar; a incógnita faz parte da majestade do nosso caminho

Qual será o futuro? Prever o futuro? Eu acho que é imaginar que nós vamos sair do rio chinês e entrar num canal da Holanda: retinho, direitinho. Isso não é.

O rio chinês vai continuar a existir, naturalmente já na embocadura, perto do mar, já não é nas distâncias que nós temos percorrido, mas sempre haverá incógnitas que nós teremos que enfrentar e a incógnita faz parte da majestade do nosso caminho. Se você tira de nosso caminho a incógnita, ela passa a ser a Rua Alagoas.

Quer dizer, prever o que vai acontecer… Eu vou-lhe dar um exemplo que é característico.

As reuniões de sábado estão instituídas e elas têm funcionado com uma regularidade que me alegra. Agora, quando é que vocês ou eu antes das reuniões de sábado se instituírem, vocês imaginaram encontrar esse tipo de reuniões, com este lugar, com esta intimidade, com esta interpenetração de almas, que leva para onde essas reuniões levam?

Não se podia imaginar, mas realizou-se e constitui uma parte importante da nossa caminhada.

Qual vai ser o dia de amanhã? A gente não sabe.

(Sr. G. Larraín: Está muito claro. Uma coisa que eu me expressei mal, é que eu noto nesta reunião algo do que eu notei numa reunião que houve no Hotel Rádio de Serra Negra com o senhor, faz muitos anos atrás. Não sei se o senhor se lembra. Vários dos que estão aqui estavam naquela reunião.)

No jardim?

(Sr. G. Larraín: No jardim.)

Lembro perfeitamente.

(Sr. G. Larraín: O senhor disse que todas as arestas que há entre nós, nessa ocasião por uma troca de vontade propriamente se produziu naquela reunião. Eu sinto nesta reunião muito isso, que há algo que o senhor pode falar sem tantos cuidados, de um lado. Por outro lado, uma certa alegria, porque se está participando do que o senhor como que internamente está pensando. Não sei se o senhor concorda que isso é assim, se há algo assim ou não.

A gente se pergunta, na linha do que o Sr. Nelson levantava, se não há um desígnio da Providência de que nós tenhamos essa troca de vontade com o senhor. Seja qual seja a curva do rio, o problema que a desconfiança coloca é se se está nessa comunicação com o senhor de alma. Porque a gente vê que com essa comunicação de alma as curvas se dão, mas que esse é o núcleo da questão. Sem isso é que a coisa complica.

Então há uma espécie de pressuposto que é uma benquerença, eu sinto muito nesta reunião aqui, uma espécie de ser unum com o senhor, que a gente sente que com isso atravessa o que for preciso. Eu creio que Ela está dando muito nesta reunião como promessa. Muita gente fala de união com o senhor, mas sem uma espécie de experiência um tanto como que mística a coisa não vai. Há uma espécie de bom deleitamento nesse contato de alma que dá uma alegria extraordinária, e isso dá a entender um pouquinho esse clic.

Eu creio que o Sr. Nelson estava perguntando como é que seria quando se produz inteiramente. Aí, então, não sei que tamanho vai ser, mas aí tudo se torna fácil. […] Como é que o senhor vê isso?)

* O relacionamento com nosso Pai e Fundador importa e acarreta consigo uma ruptura profunda com a Revolução

Eu acho o seguinte: que há qualquer coisa neste relacionamento de alma que é, antes de tudo, uma ruptura tácita, mas profunda, com a Revolução.

Quer dizer, esse relacionamento assim importa e acarreta consigo uma ruptura profunda com a Revolução, e posta de lado as fumaças da Revolução, fica o terreno livre para um entrelaçamento de almas imediato e surpreendente. Mas é preciso remover essa coisa, e essa coisa a gente só consegue remover por meio de orações, pela aceitação dos sofrimentos que vêm, etc.

Escutem, meus caros, eu sou obrigado a perguntar que horas são.

(Sr. G. Larraín: Tardíssimo, deve ser tardíssimo. Três e dez já. Mas é uma suprema reunião.)

O que é que eu posso fazer?

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