Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) –
9/9/1989 – Sábado – p.
Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 9/9/1989 — Sábado
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Sublimidade, Cavalaria e discernimento dos espíritos * Discernimento dos espíritos no Senhor Doutor Plinio como fruto de seu amor à sublimidade da Igreja * O amor ao sublime gera o discernimento dos espíritos * Admirar uma representação sensível da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo * Tendência para o amor ao sublime na infância e na adolescência * Omnipresença do sublime na Idade Média; Auge do sublime, oferecer a própria vida: o holocausto, a Cruzada! * A Revolução, contra-cruzada do banal, do vulgar, do vil e do infame; A TFP, contra-ofensiva do sublime! * Espírito de cruzada indispensável na sociedade civil; A vida como uma luta * O Grand-Retour, uma magnífica explosão do espírito de cavalaria * Se os bons se radicalizassem, a opinião pública perceberia e tomaria partido
* Se os bons se radicalizassem, a opinião pública perceberia e tomaria partido
(Sr. GL: Nós estávamos batebolando lá em cima, comentando um pouco as graças da semana, etc. E indiscutivelmente a graça dominante foi o tema Cavalaria. E o Sr. Guerreiro lembrava uma reunião que o Sr. fez sobre a “guerra santa”, na Comissão B, há vinte anos atrás.)
(Sr. GD.: O Sr. dizia que as condições para a guerra santa era essencialmente duas: primeiro, a compenetração do adversário; mas, antes, a compenetração dos bons. E o que estava faltando era a compenetração do lado de cá. Que quando houvesse penetração do lado de cá, a opinião pública tinha antenas para perceber que isso tinha acontecido. E aí ela tomaria partido. E aí o confronto era inevitável.)
Eu penso bem exatamente isso.
(Sr. GD: Foi o Sr. que explicitou. Eu estou apenas recordando...)
Eu quero dizer o seguinte: passados vinte anos, confere com o meu pensamento atual exatamente. Não mudou em nada.
(Sr. GL: Então, a propósito de tudo isso, nós gostaríamos de fazer a pergunta em função do Sr. Quer dizer, como é que o Sr. vê isso, como é que esse espírito — que inegavelmente é o espírito do Sr. — de cruzada, de profetismo e de aristocratismo, como é que nós devemos vê-lo?)
É, o assunto é muito rico, muito bonito, desde que a gente tenha a coragem de olhar bem de frente, e não estremecer diante de algumas formulações que podem parecer ousadas, mas que são tudo quanto há de mais ortodoxo.
* Godofredo de Bouillon: de pecador a cruzado
Tomem uma primeira coisa, que é a seguinte. A noção que tinham os cruzados, portanto o Bem-aventurado Urbano II e os que atenderam ao apelo dele: Godofredo de Bouillon, depois todo o resto. Alguns dizem que Godofredo de Bouillon foi um pecador, e parece que foi mesmo, antes das cruzadas. Que ele se cruzou para expiar pecados que ele tinha cometido.
(Sr. Poli: Ele tinha atacado o Papa e saqueado Roma. E o Papa deu como penitência fazer uma cruzada.)
Bem, assim vários outros cometeram pecados, e isso, aquilo, aquilo outro.
* Atrativo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo para o homem medieval, que o levava a se cruzar
Mas havia uma coisa neles que era a seguinte. Postos, em espírito, em face da pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, o modo deles verem Nosso Senhor Jesus Cristo era tal, que acendia neles o entusiamos cruzado. Quer dizer, a personalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo continha elementos, no entender deles, que despertavam neles o espírito cruzado.
* Modo diferente de ver a Pessoa de Nosso Senhor no século passado
Ora, o modo de ver a Nosso Senhor Jesus Cristo a que me habituaram a mim, na minha infância, e habituaram a vocês na infância de vocês, não conduzia a isto de nenhum modo! Faltava, portanto, um determinado elemento que havia necessariamente n’Ele, e que o Emerisismo, ou qualquer outro desfalque do tempo, retirou da pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Depois, também, o conceito de sublimidade. Este conceito está presente no modo de ver Nosso Senhor Jesus Cristo, no meu tempo de criança, e ainda no tempo — tão posterior — de criança de vocês. Mas era uma sublimidade que tinha uma certa faixa de sublimidade. Não era a sublimidade omnímoda como é a sublimidade que um cruzado via em Nosso Senhor Jesus Cristo, e que inspirava a ele o estado de espírito por onde tudo quanto ele fazia, ele procurava fazer sublimemente, com a intenção de imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo.
* Todos os dois modos de ver Nosso Senhor levaram a fazer coisas grandes e santas
De maneira que para nós compreendermos bem aquilo de que eu quero falar, nós temos que fazer o seguinte raciocínio: Esses homens movidos por este modo de ver a Nosso Senhor Jesus Cristo, fizeram coisas santíssimas e grandíssimas, e o nome deles ficou marcado na História até o fim dos tempos.
É também certo que o ver Nosso Senhor Jesus Cristo como se via nos nossos tempos de infância era santíssimo e grandíssimo, e levou muitas pessoas a fazerem coisas santas insignes, porque no século passado — vamos dizer, e nesse século — coisas santas insignes foram feitas, representando todo o sacrifício do espírito humano, uma santidade autêntica, extraordinária, etc. — onde pareceria que não estava presente aquilo que movia os cruzados.
Vocês estão percebendo que é uma questão espinhosa essa de que eu estou tratando. Mas vamos tratar com confiança em Nossa Senhora, que chegaremos a uma solução séria, sólida, e que nos dá toda paz de alma quanto à ortodoxia dela.
* No entanto a modo de ver “século passado” não incluía o entusiasmo que levava até a Cruzada
Então nós não podemos dizer o seguinte: que o modo de ver Nosso Senhor no século passado tinha qualquer coisa de defectivo, por onde não despertava todos os modos de entusiasmo que incluíssem o da cruzada. Isso nós não poderíamos dizer.
Mas nós poderíamos dizer que o modo de ver a Nosso Senhor Jesus Cristo dos medievais continha algo próprio ao período particularmente guerreiro e militante dentro do qual eles tiveram que viver. Não era uma coisa subjetiva, era uma coisa objetiva, mas era uma coisa de Nosso Senhor que para aquele período de guerra, aquela período de batalha, revelava, fazia ver algo de especial da Pessoa d’Ele, que depois, para outros períodos, Ele manifestou outras perfeições d’Ele. E sem negar essa perfeição, Ele a deixou mais na sombra, para realçar outras coisas que precisavam ser feitas.
E que, portanto, não se pode dizer que tenha havido algo de defectivo nesse processo. Mas houve indiscutivelmente uma mudança de cores que a eles, cruzados, despertava uma certa coisa, e quando a época do combate se reapresentou sob a forma de uma cristandade tão assaltada e tão aflita, que o jeito seria a cruzada, defeitos se introduziram a la Émery que impediram de ver o que Nosso Senhor manifestaria.
* O modo de apresentar os santos do século passado oculta os lances de cruzado que eles fizeram; O Emeresismo acentua uma realidade
Bom, na realidade isto eu suponho que tenha sido assim. Mas com um desconto, em todo o caso, que é preciso tomar em consideração. Quando a gente vai estudar os santos do século passado, os santos canonizados pela Igreja, portanto cuja santidade nos inspira toda confiança, nós notamos com alguma freqüência uns lances que mostram nele o espírito de cruzada. Mas o modo de apresentar esses santos ao público — não é dizer que oculte isso, mas de tal maneira põe numa surdina isso, sem abafar inteiramente, que nós não vemos por causa de um certo jogo.
E que, portanto, há duas coisas que concorrem para isso: há uma certa mudança de cores, disposta pela Providência por causa das circunstâncias; mas há também uma certa subtração do emeresismo, que exagerou essa mudança de cores, e que fez com que ela fosse mais ausente do nosso panorma do que normalmente deveria ser.
Mesmo, portanto, no século XIX, estudando os santos do século XIX, a gente nota neles de vez em quando um dito, de vez em quando um traço, de vez em quando uma coisa, que mostra que esta diferença de tonalidade não era tão grande. E que houve uma subtração emeresiana, que fez parecer essa diferença de colorido bem maior do que ela era de si, legitimamente.
* Nossa vocação pede ver Nosso Senhor Jesus Cristo com os elementos próprios a despertar lances de Cruzada
E que, portanto, nós ficamos colocados dentro dessa situação: que a nossa vocação e a nossa alma só daria inteiramente o grande dos grandes colocados diante de uma perspectiva, e diante de uma adoração de Nosso Senhor, com todos os elementos para despertar a alma de um cruzado!
Bem, mas que de outro lado um certo emeresismo retardou a evolução geral dos fiéis na direção que os acontecimentos pediam — portanto, foi nociva desse ponto de vista. Depois, ocultou alguma coisa que não deveria ter ocultado, ou pelo menos subestimou alguma coisa que não deveria ter subestimado — eu vou dar daqui a pouco um exemplo absolutamente frisante nesse ponto —, e com isso acabou criando uma situação muito difícil para nós.
Porque essa explicitação não feita, haveria uma espécie de desencontro entre o nosso ideal que nós devemos seguir, e a realidade como esse ideal era apresentado [autoritative ?] para nós. E daí uma espécie de qui pro quo e de enredo que nos atrapalha num ponto fundamental da nossa vocação.
* Exemplo: a igreja de Santa Teresinha, e a alma de cruzado da santa carmelita
Bem, uma coisa característica. Tomem a Igreja de Santa Teresinha, aqui perto. Tem imagens — ao menos tinha, há anos que eu não vou lá — mas tinha imagem de Santa Teresinha logo do lado de fora da porta, uma imagem mais ou menos do colorido do prédio, espalhando pétalas de rosas. Depois, dentro, no altar-mor uma imagem de Santa Teresinha, etc.
Qual dos que iam lá rezar para Santa Teresinha, e se extasiavam com a santidade dela, etc., tinham a noção de que na autobiografia dela — “História de uma Alma” — ela dizendo que ela queria isto, que ela queria aquilo, os ideais que ela queria…
O ponto de vista dela era o seguinte: ela queria fazer em favor da Igreja tudo quanto era necessário naquele tempo para salvar todas as almas. Então eu me lembro que ela dizia: “Eu quereria ser uma pessoa que se corroesse de penitências, de maneira que salvasse a Igreja; eu queria ser um missionário longínquo; eu queria ser um — isso está; agora eu vou pôr umas coisas imaginadas, que eu não tenho certeza que está — eu queria ser um professor no alto de uma cátedra prestigiosa, desbaratando o erro dos infiéis; eu queria ser um Bispo, do alto de uma cátedra ou de um púlpito, reivindicando os direitos da Igreja; daí para fora.”
Tem no meio: “Eu queria ser um cruzado brandindo o ferro contra os inimigos que avançassem contra a Igreja!”
Ora, isto, o pessoal que freqüenta a Igreja de Santa Teresinha não tem idéia que estava no espírito dela, e lendo quase que desviam os olhos com uma espécie de pudor! Por julgar que é uma coisa que desfigura a beleza moral que eles viam em Santa Teresinha. Porque Santa Teresinha tem que ter uma forma de doçura que não seria compatível com o ser um cruzado.
* Até no modo de apersentar Santa Joanna d’Arc, isso aparece
E a coisa vai tão longe, que na veneração de Santa Joana d’Arc, que é apresentada em geral com couraça e com todo o apresto de uma santa que comanda um exército, entretanto não é uma coisa que represente Santa Joana d’Arc metendo uma lança num inglÊs, e vencendo, numa atitude de combate. Porque chocaria. Eles sabem que ela matou gente, mas chocaria vê-la fazendo o ato de morte. Porque isso chocaria uma idéia meio instintiva de santidade, que nos foi transmitida com o ambiente dentro do qual nós fomos criados.
* Um problema que surge de mudanças de matiz legítimas e de substrações malandras
Agora, então, uma espécie de contradição interna em nós. Se nós vamos tomar o nosso espírito de cruzada até o fim, chocamo-nos com essa imagem do santo, criada por esta forma. E na qual, entretanto, muita coisa é verdadeira. Porque essa é que é a questão. Há mudanças de matiz legítimas, e há umas subtrações malandras. Mas não vai além disso.
Mas cria para nós uma diversidade de pontaria tão enorme, que nós imaginarmos Nosso Senhor enquanto estando presente e falando pela boca, pelos lábios do Bem-aventurado Urbano II, para convocar a cruzada, e isso para que a sepultura d’Ele não estivesse em mãos dos infiéis, é uma coisa que não cabe na idéia que o comum das pessoas tem de Nosso Senhor.
* Resultado: a nossa a meta faltam-lhe dois elementos capitáis para realizar-se inteiramente
Agora, o resultado é que nem a idéia de cruzada, nem a idéia do sublime — eu vou falar daqui a pouco do sublime —, o resultado é que dois elementos capitais da cruzada, sem os quais a cruzada não é cruzada, estão ausentes da meta que nós comodamente consideramos como a nossa meta.
* É preciso mudar isso para poder tomar a lança e seguir para Jerusalem em espírito!
Porque isso é preciso uma espécie de engenharia, para introduzir no nosso panorama piedoso. Porque de si nós estamos tanto ou tão habituados a uma outra coisa, que não conseguimos fazer.
No dia em que nós conseguíssemos fazer isto, nesse dia nós nos sentiríamos muito mais desligados, muito sem peias, sem amarradelas, para tomar a lança e seguir. Quer dizer, formar o espírito de cruzada. Não se trata aqui de uma cruzada, mas se trata de formar o espírito de cruzada. Esse espírito de cruzada fica toldado por isso.
* Como era preciso saber ver isso na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não só no reflexo d’Ele que que são so cruzados
Agora, acontece que se se olhasse o Santo Sudário, haveria vários elementos para isso. Na dignidade d’Ele, etc., haveria vários elementos para isso.
Acontece sobretudo o seguinte. É que a gente deve fazer o seguinte raciocínio: o espírito dos cruzados era uma graça; Com esse espírito eles fizeram maravilhas; Logo, nesse espírito se refletia Nosso Senhor; E para saber como era Nosso Senhor enquanto cruzado, é legítimo olhar para os cruzados! Porque isso é uma coisa que não padece dúvida!
O Apocalipse apresenta, em certo momento, Nosso Senhor avançando a cavalo com uma espada na boca! Que era o modo pelo qual certos guerreiros, querendo estar ultra armados, conduziam mais uma arma. Quebrava a espada, caía a espada da mão durante a batalha, tiravam a espada da boca e iam combater. Quer dizer, portanto, ultra combativo! Isso é o Apocalipse! E há iluminuras medievais, há coisas que representam…
(Sr. PP: Santo Isidoro de Sevilha é apresentando a cavalo, de espado na mão, e vestido de Bispo.)
Você vê a coisa. Bem, quando a idéia do Bispo para nós é incompatível com a idéia da batalha. Você vê, portanto, uma espécie de defeito visual, psico-visual, que as coisas introduziram em nossa alma, e que amarra o nosso vôo para o ponto para onde nós quereríamos voar.
* Compreender isso, amar isso prepara a alma até para a castidade
Cria uma espécie de qui pro quo por onde, por exemplo, eu insisto muito sobre a piedade junto aos nossos elementos, nunca me saciarei de insistir, mas eu mesmo percebo que se este ponto, que eu só estou conseguindo explicitar agora— parte do que eu disse agora é velho, foi explicitado cem vezes, mas alguma parte não —, que isto se fosse instalado na nossa piedade como deve estar instalado, isto nos daria um vôo, uma facilidade, um élan para cem coisas, entre as quais a pureza. Porque isto prepara a alma para a castidade, que é uma verdadeira maravilha. Mas que tem faltado a nós, enquanto nós, porque a graça nos chama para um lado, e uma noção com esses “senões” de piedade nos retém no nosso vôo.
* “Dirumpisti vincula mea, Domine virtutum!”: A noção de virtude como força
E quase que se poderia dizer a esse respeito uma palavra da Escritura que se cantava — não era um grande coro, mas a partitura da música era muito bonita — na Igreja Santa Cecília, no corozinho paroquial de Santa Cecília, quando eu era congregado mariano: “Diripuisti vincula mea, Domine virtutum, Domine virtutum” — Tu arrebentaste os meus vínculos, oh Senhor Deus da força, oh Senhor Deus da força! Aliás, “virtutum” aí é “de todas as forças”.
Eu me lembro que eu, um pouquinho de latim eu entendo, e eu ouvia cantar isto, e a partitura muito bonita, muito digna, e eu pensava com os meus botões: “Isto é tão magnífico, e a minha alma voa com isso! Mas o pessoal dessa igreja, inclusive o coro que está cantando, não entende o que estão cantando”. E se alguém pusesse a trdução — “Vós rompestes os meus grilhões, os meus vínculos, oh Senhor Deus de todas as virtudes, ou seja, de todas as forças, de todas as modalidades de fortaleza” — que isto eles não compreendiam, não entenderiam. De tal maneira a idéia de virtude se deixou monopolizar por uma coisa magnífica, esplêndida, mas que é a clemência e a pena do outro que está sofrendo.
* Só se entende o espírito de Cavalaria a partir da consideração de Nosso Senhor Jesus Cristo assim
Então, para compreender bem o espírito de cavalaria — aqui chega o ponto — só pode haver um ideal capaz de despertar o espírito de cavalaria: é Nosso Senhor visto assim! Tem que haver esse ideal, e ideal tão alto, tão elevado que desperte esse espírito, porque isso no espírito é o que pode haver de mais elevado — eu daqui a pouco vou dizer uma coisa a vocês nesse sentido —, isto tem que ser um reflexo de Nosso Senhor, e é só vendo Nosso Senhor assim que nós chegamos até lá.
* Necessidade da representação sensível de Nosso Senhor assim, para avançar neste caminho
De onde decorre o seguinte. Que em última análise nossos problemas se simplificariam muito, e nossas almas voariam muito, no momento em que fosse possível a algum de nós, com uma verdadeira alma de um artista, representar Nosso Senhor assim! Ou que nós recebamos uma graça por onde de fato nós compreendamos isto de um modo meio visual, meio ótico. Não apenas como uma teoria, que é o que eu estou dando, mas é um modo meio experimental, meio ótico. Vamos dizer, uma graça pela qual nós julgássemos conhecer isto assim.
* O espírito de cavalaria, a mais alta postura do espírito masculina
Por quê? Porque o espírito de cavalaria é, nesse sentido, a mais alta postura do espírito masculino, e como a mais alta postura desse espírito, reflete nos outros.
* Necessidade da mulher admirar esse espírito: o jogo do feminismo
Quer dizer, a senhora, que não dá para ser uma cavaleira, uma dama, mas que admira o ideal de cavalaria, nela se levanta uma nobreza — eu não estou falando aqui da nobreza aristocrática, eu digo uma nobreza de alma — é uma nobreza que a eleva acima da própria debilidade feminina.
(Sr. Poli: Sem deixar de ser feminina.)
Sem deixar de ser muito feminina. Mas a gente percebe bem aqui, são jogos do demônio, como a figura meramente feminina, sem ideal de cavalaria, fica com uma certa debilidade que o movimento feminista explora. Porque o movimento feminista procura completar a figura da mulher com uma certa nota de força, que a debilidade romântica da dama do século passado não tinha. É evidente.
E é vendo esta debilidade, dizer para a mulher: “Você não percebe que você é uma fracalhona, que a impostação de sua alma e de sua pessoa não está bem posta?”
Agora, muitas vão na onda. E grande parte da modernização da mulher decorre em última análise de que a admiração da cavalaria foi tirada dela.
E qual é o jeito do homem que elas gostam? É um homem sem espírito de cavalaria. Elas não compreenderiam. Se elas chegassem a gostar de um homem com espírito de cavalaria — eu digo “gostar” no sentido legítimo da palavra, um homem com quem gostariam de casar-se — se for uma mulher nesse sentido, ela não compreenderia o marido. Ela compreenderia um marido que corresse os riscos do comerciante, do self-made man, etc. Não compreenderia o homem que corresse os riscos da Legião Estrangeira, por exemplo.
* Exemplo do general Leclerc
Vocês tomem, por exemplo, um caso. Houve um general do lado francês que se destacou muito na Segunda Guerra Mundial, um tal General Leclerc. Bem, ninguém sabia quem é o Leclerc, só se sabia que era o pseudônimo dele, porque ele queria combater como anônimo, porque a família dele estava em zona ocupada alemã, e estava sujeita a vinganças, caso conhecessem quem ele era.
Quando a Alemanha foi derrotada e retirou-se, o Leclerc deu o nome dele: Era Leclerc, Vicomte de Hautcloc. E aí a família soube que o famoso Leclerc era ele.
Eu me pergunto se ele voltando em casa como um herói lendário — porque foi propriamente como ele foi — se a família teria… A família deve ter ficado entusiasmada, porque lutou pela França. Ela compreendia que ela tinha um herói? E ela teria sabido admirá-lo enquanto herói cavalheiresco, que parece que ele foi? Ou a mulher teria procurado voltar o carinho dela para um maridinho bonzinho, bonitinho, que ela viu partir para a guerra?
Bem, e por quê? Porque o espírito de cavalaria passou, morreu. Agora, aqui vai outra coisa. Eu sei que eu estou fazendo um monólogo muito longo, mas é para dar tudo. Porque se se perde a sequência das idéias, fica uma coisa prejudicada. Então eu preciso dizer a coisa inteira como é.
* O homem de bigode lustroso do século XIX, perdera o espírito de cavalaria
Também o homem do século XIX, inclusive o nobre do século XIX, em via de regra tinha perdido o espírito de cavalaria. E por causa disso dava o nobre de bigode lustroso, em que passava não sei que forma de vasilina perfumada, cabelos não sei arranjados como, jeitos, maneiras, tá, tá, tá, de que o espírito de cavalaria estava ausente.
* O heroismo passou a ser admirado em Tom Mix; vingança da realidade contra a ablação do espírito de cavalaria
Resultado: a admiração da humanidade começou a passar para os atores de cinema, que tinham certas formas de heroísmo — não cavalheiresco mas cavalar, como por exemplo esse de Tom Mix, far west, etc., ou os homens que corriam riscos fabulosos com as fortunas, jogando na bolsa, e fazendo não sei o quê, e ganhando dinheirões, porque eram homens que tinham um pouco daquela fortaleza de espírito que os outros tinham perido.
Então, ao lado do movimento feminista, a vingança da realidade contra a ablação do espírito de cavalaria foi o movimento feminista para as mulheres, e o movimento cow-boy, o movimento self-made man para os homens. E para os moços do meu tempo — não sei se no tempo de vocês era isto — o europeu parecia ligeiramente podre e ligeiramente vasilinoso, em comparação com o homem realizado no sistema norte-americano.
De onde uma impossibilidade de se voltar para a tradição, porque da tradição tinha sido arrancado, roubado um elemento moral integrante fundamental.
(Sr. MN: Eu li que o Adolpho Manjou, todos os papéis que ele representava eram papéis inferiores aos dos mocinhos americanos. Eram sempre papéis depreciativos.)
Não, ele representava por excelência o nobre francês, meio arruinado, e super fino! (…) [Vira a fita]
* A tendência para o amor ao sublime na infância e na adolescência; necessidade de explicar racionalmente nessa idade essa tendência
…inteira da cavalaria, faltaria o seguinte. E vocês devem notar nas infâncias e nas adolescências de vocês um ponto delicado nesse ponto. É o seguinte.
Na adolescência, talvez mais do que na infância, ao menos sob certo ponto de vista, na adolescência há um período em que a alma, sobretudo do menino, é levada por entusiasmo pelo sublime, e procura o sublime. Mas não encontra uma justificação intelectual para o sublime, e não encontra ninguém em torno de si amando o sublime, nem falando sobre o sublime, nem procurando o sublime.
Resultado: fica uma espécie de bloqueio e de solidão, que reduz esta sede do sublime do adolescente, reduz ao silêncio. E reduzindo ao silêncio, acaba extinguindo. O sujeito então fica prático, um espírito que se preocupa com os tipos de êxito dos homens que não têm sublimidade.
* O verdadeiro Sublime só existe em Nosso Senhor Jesus Cristo
Na realidade, o verdadeiro sublime só existe com Nosso Senhor Jesus Cristo e na religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. E é uma flor do espírito cristão o procurar o sublime em tudo, e gostar, e amar as coisas na medida em que são sublimes, é uma flor do espírito católico.
Esta flor do espírito católico encontrava nos cruzados a sua realização assim: com o ideal do cruzado, a meta sublime é dada, confiada ao homem sublime, para emprego das atividades e dos esforços sublimes, para realizar-se. E está feito o negócio!
* O espírito de cavalaria gerava o sublime em tudo, até no prático: padeiro, alfaiate
E o espírito de cavalaria gerava o gosto do sublime em tudo. Donde a presença do sublime na Idade Média, mesmo naqueles que eram feitos para uma coisa diferente do sublime — um padeiro, por exemplo.
Um padeiro chamado Mestre João, e que tinha uma padaria muito boa, no físico dele, em tudo o mais, não tinha nada de sublime, exceto duas coisas: a tendência constante em dar ao pão que ele fizesse o sabor espiritualmente mais elevado — notem agora a conseqüência — e portanto mais saboroso. Quer dizer, a procura do sabor perfeito iria numa idéia do pão sublime, que fazia o progresso da arte do padeiro. E ele era um homem cujo gosto na vida estava em contemplar o sublime, fazendo as coisas.
Disso vivia a Idade Média. Era da paz daqueles que não estavam destinados à sublimidade como atividade. Mas que procuravam então importá-la no seu campo não sublime, para irrigar esse campo. Então, a rosa sublime, o pão sublime, o traje sublime, a canção sublime — a sublimidade em tudo.
* Omnipresença do sublime na Idade Média, que fazia a distração da vida
Bem, que é propriamente a Idade Média, é essa omnipresença da sublimidade. E, eu volto a insistir, inclusive nos que não eram sublimes.
Eu vi um historiador da Idade Média que falava de uma coisa curiosa. Eu volto a pedir desculpas pelo monólogo… Bem, mas acontece o seguinte. Ele pergunta, entre outras coisas, qual é a distração que podia ter um castelo, depois embaixo um vilarejo, a igreja era dentro do pátio do castelo, porque não queriam que a igreja fosse assaltada por adversários. Portanto, o melhor das muralhas era para proteger a igreja. Mas em período de paz estava aberto, e o pessoal ia rezar lá na capela, no pátio do senhor.
E distração, qual? E ele dizia: a distração era ver desenvolver-se a vida do pessoal do castelo, que comunicava uma certa sublimidade a tudo que fazia. E era distração do homem que amassa barro, o oleiro, ou de tá, tá, tá, ver a fantasmagoria do sublime da vida do castelo.
Não sei se percebem o conceito de aristocracia como vai nascendo daí, como um perfume se evola de uma flor. É assim.
* Auge do sublime, oferecer a própria vida: o holocausto, a Cruzada!
Bem, mas então, eu acrescento o seguinte. Essa procura universal do sublime era nascida, em última análise, do espírito católico —bien sÚr — mas levado no que ele tem de apetência do sublime, levado ao seu auge pela cruzada, em que um ideal altíssimo levava ao sacrifício da vida. Nosso Senhor disse que ninguém pode ser mais amigo de outro amigo do que oferecendo a ele sua vida.
Então, diante da sublimidade de Nosso senhor, uma pessoa por amor a essa sublimidade oferecer sua vida, é elevar-se a si próprio a um grau de sublimidade… sublime! A mim me parece que é uma coisa certíssima!
E como estão vendo, nem preciso insistir, tudo o que eu estou dizendo é ortodoxíssimo! Transborda de ortodoxia.
* A Revolução tinha que ser uma contra-cruzada do banal, do vulgar, do vil e do infame
Agora, acontece que tinha que ser que pelo progresso da espiritualidade católica ao longo dos séculos, isso tinha que chegar a esse ponto. Mas tinha que ser que o demônio houvesse de querer cortar aí o desenvolvimento da espiritualidade católica. Então tinha que ser — porque tinha que ser! E tinha que ser que a Revolução fosse a contra-cruzada: primeiro do banal, depois do vulgar, depois do vil, e depois do infame!
E visto debaixo desse ponto de vista, o movimento verde é um movimento tendente à infâmia, já de uma vez. É a eliminação de toda a cultura na vida, de toda a civilização, etc., que ainda são os restos da sublimidade que houve em determinado momento.
* A TFP contra-ofensiva do sublime!
E aí a gente compreende bem a TFP como a contra-ofensiva do sublime! É a contra-ofensiva do sublime. E é este amor da sublimidade visto assim que explica a TFP. E explica mil coisas dentro de nós, que fora disso não se explicariam. (…)
* O amor à sublimidade torna-nos partícipes da sublimidade
…Se uma pessoa se entrega inteiramente ao sublime, o que ela faz é dar-se, inclusive dando a sua própria liberdade. Por exemplo, numa ordem de cavalaria, dando-se ao sublime, ela participa de alguma maneira do sublime a que ela se dá.
* Na morte de Maria Antonieta não se levantou nenhum cavaleiro para libertá-la…
Bem, e eu termino essa coisa com um trecho que eu li daquele historiador Burke.
O Burke tem um trecho muito bonito, depois uma fassurada, porque ele é falsa-direita, o Burke. Mas ele tem coisas muito bem tiradas. O Burke dizia o seguinte — eu li uma tradução evidentemente, não sei ler em inglês — ele dizia o seguinte a respeito da morte de Maria Antonieta. Mais ou menos o pensamento dele é esse: “Que tenha sido possível matar uma Princesa como foi Maria Antonieta, sem que cruzados da Europa inteira se levantassem para impedir que este fato se desse, ou para punir que o fato se tenha dado, era bem a prova de que os séculos grandiosos da cavalaria tinham passado!”
Sabe que arrepia a gente de ver isso?
(Sr. GDA: Ele pegou bem a coisa.)
Ele pegou perfeitamente bem a coisa. Disse: “Isto é uma coisa que prova que a cavalaria tinha acabado.” Então ele faz um elogio da cavalaria, da sublimidade, etc. Então ele diz: “Morreu — [aqui vem a] fassurada — e morreu para todo o sempre”.
Ele não sabia que a Providência suscitaria um movimento para a restauração do espírito de cavalaria!
(Sr. PP: Pior do que isso só vendo a situação da Igreja atualmente.)
Pois é. Então, ver aí a Igreja arrastada por onde está — na reunião de hoje à tarde ainda pudemos ver…
(Sr. GL: Mas só que eles não podem dizer o que disse o Burke.)
É, não podem!
(Sr. GL: Dizer que faltou um cavaleiro, não podem dizer.)
No chevet mortuário de Maria Antonieta, no leito de agonizante dela — ela não agonizou, mas ela teve uma agonia moral na noite que ela passou, provavelmente acordada a noite inteira, na véspera da guilhotinação. Depois ela ouviu, de manhã, o tambor bater em todas as distâncias de Paris, convocando aqueles va-nu-pieds, aqueles celerados, aqueles sem-vergonhas, para comparecerem para assistir a morte dela.
E ela ainda esperou que um tal Cavaleiro do Cravo — que era um anônimo que mandava cartas para ela dentro da prisão do Templo, e que afirmou que ele estaria na passagem dela para libertá-la em certo momento — que o Cavalaeiro do Cravo haveria de estar presente. E o nome de “Cavaleiro do Cravo” tem certa…
De fato houve uma échauffourée, um avanço por cima do cortejo como que fúnebre dela, que a acompanhava para a morte, e ela deve ter sentido ali que o Cavaleiro do Cravo estava se aproximando. Mas o Cavaleiro do Cravo não teve a coragem de levar o risco até o fim, e fugiu com o grupo de asseclas que ele arranjou. O que parecia ainda mais confirmar o Burke! Até os que tentaram ser cavaleiros não o foram até o fim, e colocados diante do perigo não tiveram coragem.
* O espírito de cavalaria não morreu: na parte pobre de um continente desconhecido renasce a cavalaria!
É verdade, o espírito de cavalaria estava morrendo. Mas Nossa Senhora não permitiria que ele morresse inteiramente. E proporcionou a ele, num continente que não tinha conhecido aquelas coisas, na parte pobre desse continente, que é a parte católica, a parte que não conheceu o grande êxito industrial, que não conheceu os triunfos, que vivia de admirar e de imitar a América do Norte e a Europa, nessa parte a cavalaria renascesse!
E aí eu tenho certeza que eu faço vibrar a corda mais íntima da alma de cada um, dizendo que aí os Srs. encontram a TFP!!
* Remanescentes de amor à cavalaria na Espanha
(Sr. PHC: Aquelas repercussões que mais de uma vez se fizeram ouvir durante a campanha da Espanha: “Sois mais valentes do que Santiago”, remonta inteiramente ao espírito de cruzada.)
Isso! O povo que conservou uns restos de espírito de cavalaria, foi sobretudo o povo espanhol. E é ter entusiasmo para com a valentia. Mas uma valentia que eles já não vêem de modo inteiramente cavalheiresco, mas ainda tem algo de cavalheiresco. E daí o entusiasmo deles pelo… O grande elogio que eles faziam: “Valentes! Adelante!” (…)
…até que ponto eu tenho razão que isto lhes toca a alma até o fundo! É a questão.
* Hoje não é possível ser inteiramente católico serm ser cruzado
(Sr. GL: Eu pergunto se no caso da Contra-Revolução não há algo a mais do que essa visão da sublimidade? Algo que está relacionado com a vida de Nosso Senhor. A Contra-Revolução vivifica, por assim dizer. A coisa me parece muito mais radical.)
É, mas isso se prende a outras circunstâncias, um tanto extrínsecas ao que nós acabamos de falar, que é o seguinte. Quem hoje em dia não tem esse ideal da TFP — e, portanto, o ideal de cruzado — não tem meios de se manter, salvo situações muito raras, na posse do estado de graça. O que não era na Idade Média.
(Sr. GL: Podia ser um católico sem ser cruzado.)
Podia ser um católico sem ser cruzado, e podia perfeitamente viver no estado de graça sem ser cruzado.
* São Francisco de Assis, entusiasta da Cruzada!
Eu me esqueci, é só dizer de passagem, que os bonos biógrafos de São Francisco contam que São Francisco era um verdadeiro entusiasta da cavalaria. E que ele antes de fundar a ordem franciscana, teve uma dúvida se ele devia fundar a ordem franciscana ou ir sre cavaleiro.
(Sr. GD: Ele só não foi porque tinha um físico muito débil.)
Está vendo? Olha lá a razão. Do contrário teria ido. E que ele, para os noviços dele, ele dava promiscuamente vidas de santo e histórias de cavalaria! O que hoje… Por exemplo, eu me lembro no Rio de Janeiro, uma praiazinha lá, não sei se é o Leblon, Mário, que tem uma estátua de São Francisco de Assis? Ali perto do Hotel Glória, lembra-se que tem uma praçazinha à esquerda de quem sai do Hotel Glória?
(Sr. MN: Ali perto da estátua do Cabral?)
Não me lembro se tem o Cabral lá. Chamou-me muita atenção São Francisco de Assis. Um delíquio de amor pela natureza! Então… o indivíduo que compos aquela estátua fazia exatamente o roubo que eu falei: ele subtraía da personalidade de São Francisco o lado que era o lado cavaleiro.
(Sr. MN: Aliás, São Francisco esteve na cruzada.)
Esteve na cruzada. E ele tinha uma alma de cruzado.
* Porque é indispensável o espírito de cruzada na sociedade civil
Bem, mas agora, ao que é que vem isso? É que, seja como for, esse espírito de cavalaria a meu ver deveria ter modelado toda a sociedade civil até o mais ínfimo. E ele foi se evanescendo… (…)
* A sociedade civil degenerando, contamina a sociedade espiritual
…primeiro, a idéia de que a sociedade civil se degenerando muito, cria uma situação em que fica difícil, senão dificílimo, à sociedade espiritual se manter incontaminada da peste que vem da sociedade civil. Isso é a experiência dos fatos.
* A sociedade civil só se mantém vivendo do enlevo do sublime, que encontra sua expressão na cavalaria
Segundo lugar, a idéia de que a sociedade civil ou vive no enlevo do sublime em todas as matérias, ou ela mesmo apodrece. Terceira idéia: esse enlevo do sublime encontra sua expressão mais alta na cavalaria.
* Compreender a vida como uma luta constante para fazer apostolado: Igreja militante
E que, portanto, a sociedade civil tem que estar numa luta contínua contra uma organização que na Idade Média eles não conheciam senão muito mal, e que era a que nós conhecemos…
A vida do homem na sociedade civil passa a ser de um apostolado constante. E a necessidade de lutar, não mais apenas para se santificar, mas para fazer esse apostolado. E uma militança católica habitual, normal, estável, contínua, mesmo para os que não são da cavalaria, por causa do conceito de guerra psicológica, que acrescenta à cavalaria mais algo, e algo da TFP, explícito na TFP: é a forma de mentalidade por onde se faz a guerra psicológica a favor do sublime. E deixando de fazer, quem nós sabemos corrói esse espírito.
* Isto é o Reino de Maria!
Isso leva as coisas a tais termos, tão mais altos do que esteve na Idade Média, que eu nem sei o que dizer. É o quê? É o Reino de Maria!
(Sr. GL: A Contra-Revolução tem o discernimento dos espíritos, que um cavaleiro medieval não tinha. A Idade Média serve como um ponto de referência.)
Isso, é ponto de referência. A expressão é muito boa.
* O Grand-Retour, uma magnífica explossão do espírito de cavalaria
(Sr. GL: Nós gostaríamos de ver o ponto de chegada…)
Ah, ah, ah!! Então você tem a idéia inteira de um perfeito membro da TFP, como ponto de chegada… por enquanto! Porque a TFP tem que crescer ela mesma muito na Bagarre. E nós não tivemos o Grand-Retour. Eu tenho impressão que o Grand-Retour, à vista disso, tem que ser uma magnífica explosão do espírito de cavalaria entre nós, que nós apenas entrevemos.
* O membro da TFP como um guerreiro da “psy-war”
Então, nós temos que ver que o membro da TFP que receba o Grand-Retour, ele é tal que, antes e por cima do guerreiro que luta na guerra, ele é o homem que luta na guerra psicológica contra-revolucionária, continuamente, sem fadiga. Porque ele tem noção que depois do que se passou, nunca mais o demônio deixará de fazer guerra psicológica revolucionária. E que, portanto, os homens nunca mais poderão deixar de fazer guerra psicológica contra-revolucionária.
* O amor ao sublime gera o discernimento dos espíritos
E que em função — e isso que eu vou dizer aqui é muito importante — em função deste amor ao sublime, o discernimento dos espíritos nasce muito. O discernimento dos espíritos que pode ser um paredão, para muitos, abrindo-se os olhos para o amor ao sublime, o sublime dá todos os critérios para medir outrem e medir-se a si próprio. Isso é uma coisa que nunca me tinha ocorrido, está ocorrendo só agora à noite, enquanto eu falo. Mas é verdade.
* O discernimento dos espíritos no Senhor Doutor Plinio como fruto de seu amor à sublimidade da Igreja
(Sr. GL: O Sr. disse para os americanos que esse discernimento dos espíritos no Sr. decorria do amor que o Sr. tem á Igreja, e do ódio que o Sr. tem aos inimigos dela. Mas aqui é visto em função do sublime. É claro, a Igreja é sublime…)
É claro. Não, e depois tudo o que eu digo da Igreja, é uma explosão de amor à sublimidade dela. Os Srs. nunca me vêem falar da Igreja, a não ser em termos de ultra enlevo pela sublimidade dela. Nunca! Por mais que as circunstâncias atuais possam ser dolorosas e…
(Sr. GL: Na Reunião de Recortes o Sr. se refere a Ela com um respeito do outro mundo.)
Isso é conatural a mim. Se eu perder esse respeito eu morria.
* Resumindo D. Chautard: a alma de todo a apostolado é o amor à sublimidade, que gera o espírito de cruzada
De maneira que então aí nós teremos o ideal para o qual tende verdadeiramente a nossa vida espiritual. E então a teoria do D. Chautard, que a fecundidade da vida espiritual é condição para a fecundidade do apostolado, continua inteiramente verdadeira. Mas toma uma riqueza de conteúdo ou de clave, que é especial. O que ele disse genericamente, aplica-se em concreto, e de modo excelente, para o nosso caso. E aí vai até não sei onde.
E acho que com isso, ou eu me engano, ou a nossa reunião de hoje à noite atingiu um píncaro sublime. No meu modo de ver, é isso.
* O Pecado Imenso, uma preguiça em amar o sublime
(Dr. EM: A própria idéia do pecado imenso fica muito mais clara.)
Muito mais clara. Quer dizer, em determinado momento aquele príncipe — nós deveríamos atarrachar assim a metáfora — ele não teve apenas a preguiça de carregar aqueles trajes, aquelas etiquetas, etc., mas ele teve a preguiça de tender ao sublime. Porque se ele amasse o sublime, na lógica da metáfora ele não teria aquele movimento.
* “Point de vue” e os príncipes de camiseta
Eu estava vendo agora, com tristeza, o Point de Vue, o penúltimo número do Point de Vue, que é sempre o que me chega. Eu estava vendo esse número. O número de fotografias de príncipes aparecendo só de camiseta nas mais variadas ocasiões, uma coisa que corta a alma. E as rainhas ou princesas, esposas deles, mais ou menos por aí.
Por exemplo, a Rainha da Dinamarca. É uma pessoa bem apresentada, é uma Princesa… ela é condigna do cargo que ela ocupa. Mas ela passando as férias no lugar da França onde nasceu o marido — ela vai todos os anos com o marido passar férias lá, eu tenho impressão que o marido vai descansar da Dinamarca naquele lugar —, ela vestida com uma roupeta, ela lá não é rainha, ela está vestida com uma roupeta qualquer, que está na linha da do marido. O marido… ravi, não é? E de roupeta. Os filhos também.
Bem, ela toma o aspecto de uma — era no tempo em que eu era menino — uma professora de piano que ia de casa em casa lecionar piano para meninas, 90% das quais não tinham talento. Iam datilografar o piano, porque se usava tocar piano. Bem, é a cara da Rainha. E ela contente nessa atitude. Quer dizer, é o sublime que se evanesce.
O príncipe perfeito teve uma evanescença do sublime, uma recusa do sublime, que o levou a todo o resto. Aí a metáfora toma o seu valor lógico, completo.
(Dr. EM: É pode não ter sido uma coisa muito grande.)
É, é isso. Eu me lembro — eu estou a toda hora contando casinhos, mas é que eu só conheço os meus casinhos, e eu preciso exemplificar… (…)
…são exemplos que tanto quanto possível simplificam a temática, etc. Mas eu não me lembro em nenhuma reunião da vida da TFP se ter chegado tanto, tanto ao… Mesmo aquelas reuniões da Comissão B primeira, que eu dizia que não choviam graças: eram cascatas de graças — mesmo essas não chegaram ao âmago da questão como chegou essa reunião hoje à noite.
* Pontas de trilho
(Sr. GL: E tem muita coisa para tratar ainda sobre a relação do profetismo com isso.)
É um tema magnífico.
(Sr. GL: Depois como o profetismo não só reacendeu esse ideal de cavalaria, mas levou-o ainda mais alto. Então, como é a gênese desse fenômeno, é uma coisa muito bonita. E uma coisa também que o Sr. GD outro dia me lembrou, que era…)
(Sr. GD: É uma coisa que o Sr. deu na Comissão B, as regras da percepção, os vários dons que a alma precisa ter para perceber o processo revolucionário nas tendências. E o Sr. falava dos relativos terrenos e dos absolutos celestes, como um dos elementos.)
(Sr. GL: Mas todos formam um tipo de cavalaria que é completamente nova. Poderíamos ver na próxima reunião.)
Eu confesso que eu não ouvi bem o que o GD disse, precisaria ajustar o meu aparelho, é todo um problema. Mas para uma outra reunião vocês trazerem, e eu também ajustar o meu aparelho… Eu gostaria muito.
Bem, ficamos combinados nisso, se quiserem. (…)
* Profetismo e cavalaria
…até o fim, era preciso ouvir essa reunião, fazendo esse ponto: onde nasceu aí o profetismo? A gente vê que é em tudo. Nós temos o profetismo da ordem vindoura, e da ordem vindoura de coisas, toda ela sublime, profetismo este nascido de uma fidelidade profética ao passado. Tudo é profetismo aí.
(Sr. GL: Profetismo agora, não no passado.)
O profetismo nunca é do passado. Ele pode ter a missão de recolher do passado algo para a sua tarefa.
(Sr. GL: Os cruzados da Idade Média não deram profetas. O profetismo veio agora, com a Contra-Revolução.)
Isso, exatamente. A nossa Contra-Revolução é uma Contra-Revolução profética, que toma o passado, lhe dá vida e faz ir além! Toma, quer dizer, recolhe do passado ainda o que está vivo. Propriamente é isso.
Bem, meus caros!
[Orações finais.]
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Alagoas, 1º andar