Conversa
de Sábado à Noite – 7/6/1986 – p.
Conversa de Sábado à Noite — 7/6/1986 — Sábado [VF 39] (Neimar Demétrio)
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Amadeu eu acho que essa pilha morreu, viu?
(Sr. João Clá: O senhor sabe que quando morre uma, morre as duas.)
É isso. Está claro, isso é uma regra que não falha. Vamos sentar, meu Paulo Henrique. Então o que é que contam de novo?
(Sr. Gonzalo Larrain: O Sr. Guerreiro tem aí uma pergunta para o senhor.)
Diga, meu Guerreiro. Quais são as perguntas?
(Sr. Guerreiro Dantas: Seria uma pergunta sobre o modo de atuar do senhor. De onde vem os princípios da ação do senhor?)…
(…)
…Olhe George, se você quiser ponha a sua cadeira entre o Poli e o João. Pronto, cabemos todos…
(…)
…Quer dizer, eu vou responder tanto quanto está em mim, tanto quanto eu consigo discernir que isto esteja em mim, mas eu acho que há todo um brou-ha-ha que é preciso pôr em ordem e eu vou ver se consigo pôr em ordem.
Mas a questão é a seguinte: é que eu quando falei com vocês sobre a ação da última vez, eu falei a respeito da ação…
(…)
…Eu vou ter que passar por temas, mas enfim, para responder a pergunta tem que ser isto. Deflui a vida guerreira não à maneira de especialização técnica, como ela passou a ser a partir do momento em que se formaram exércitos regulares, ela começou cada vez mais a ser uma técnica parecida com os jogos de xadrez, etc., não, não é isso.
É a energia e a força guerreira que resulta no Carlos Magno do espírito religioso, de um ideal religioso que ele quer fazer vencer, de uma forma de vida temporal coerente com esse ideal religioso, e que ele quer não impor, mas dar nascimento, dar força, dar contextura, é muito mais do que impor, e que sai de um mesmo olhar e com uma mesma preocupação, uma mesma meta, é a forma de Cristandade a serviço da Igreja Católica, lá vai. Isso ele entende, entende com o mesmo olhar e com o mesmo que ele é no trono governando, ele é a cavalo reinando.
Donde vem uma certa idéia de que por pouco que vocês analisem, vocês verão que é muito contra-revolucionária, quer dizer, dita numa roda hoje não agradaria em nada, que a distinção entre a vida civil e a vida guerreira — eu estou evitando a expressão “vida militar” — e a vida guerreira é tal que a vida civil deve ter muito mais de guerreiro e a vida de guerreiro deve ter muito mais de civil do que depois se estabeleceu.
Esse muro divisório que é um "nhonhô" que nunca luta, nunca expõe a pele, e o outro é o guerreiro que nunca abre o livro, nunca admira uma obra de arte, nunca tem cultura para nada, mas que vive afiando a espada, esta distinção é uma distinção que não me parece válida.
Essa distinção resulta da formação dos exércitos mercenários e especializados, quando na realidade a coisa não é essa. A coisa é: grandes movimentos de indignação, grandes movimentos de impacto, ou de defesa de populações inteiras postas no impulso beligerante, e das quais sai todos os homens como guerreiros natos.
E, em sentido diferente, em sentido diverso, no porquê o militar é um homem que saiu da vida civil, que por um ideal, por uma meta patriótica, no sentido mais nobre da palavra e tudo. Ele saiu da vida civil e vai para a guerra com o furor que ele deve combater, ele na vida civil acompanha as coisas com uma paixão que tem algo do ponto de vista beligerante, que ele sabe que a qualquer momento pode ser que um daqueles problemas exija que ele pegue uma espada e vá combater.
(Sr. Nelson Fragelli: Isso se vê muito no Grupo.)
Muito, muito…
(…)
…o instrumento de continuidade, ou a estrada de continuidade, do passado para o presente, e, portanto, de tradição histórica que se repete ao longo das gerações, etc., etc., só é autêntica e dá tudo, quando ela não é como um aqueduto romano que tem aqueles arcos que se sucedem todos iguais uns aos outros e por cima corre a água, não é isso, mas é uma coisa diferente. É como uma — eu dou aqui um exemplo que é característico — em alguns claustros medievais, o que separa a parte do claustro em que as religiosas andam, da parte interna, do miolo do claustro para o jardim, é uma colunata sobre uma muretazinha, que faz dois mundos e que integra o claustro, às vezes são três mundos, é uma parte coberta e com algumas colunatas, calçada e lisa. Depois é o jardim, e depois no centro ou há um chafariz, ou há uma imagem, são os três elementos — ou uma cruz — elementos do claustro.
Agora, separando a parte calçada e coberta do claustro do jardim, tem em geral umas coluninhas, e essas coluninhas são mais ou menos ornamentais — no total elas são necessárias, porque suportam a cobertura, mas cada uma delas não é necessária — quer dizer, tirando uma coluninha aquilo não cai, elas são necessárias no seu conjunto.
Mas, essas coluninhas que dão em ogivas sucessivas, essas coluninhas são tais, que em certos claustros elas são feitas, dão aparência de três coluninhas, de três fios entrelaçados, de três cordas entrelaçadas se quiserem. E cada corda, é à maneira de corda, vocês entendem a minha descrição, cada corda é diferente das outras duas e o modelo de uma corda não se repete em nenhuma coluna do claustro. Isto tem uma continuidade diferenciada, porque cada coluna é diferente, mas que tem a semelhança das ogivas e mantém o teto.
Bem, isso é a imagem da tradição, quer dizer, cada um de nós é um fio, ou uma corda de uma coluna e tem, portanto, a sua individualidade e a sua beleza própria, mas concorre para um conjunto que é o seguinte: cada geração é um fio assim, ciclos da História dão efeitos assim de fios de geração. Os séculos e séculos que se sucedem, quando têm continuidade, têm essa originalidade junto com a continuidade, e é a continuidade desigual, variada, ornada, que estabelece verdadeiramente o fluxo do passado, senão o passado morre, é transmitido à maneira de coisa morta, de museu, mas se esse passado, quando passa para outra colunata, não vai como um cadáver, mas revive, e revive sob mil formas até o fim, aí vocês têm uma tradição que se mantém. Eu estou claro? Ça va, mon cher?.
Agora, o que quer dizer isso em concreto? É que quando a Providência quer que uma tradição continue, Ela suscita ou indiretamente pelo jogo da natureza, ou diretamente pela ação da graça, Ela suscita nas almas apetências novas de coisas antigas. E essas apetências novas tomas a coisa antiga, assimilam e fazem dela algo que ela recebe de um jeito e transmite de outro, mas é sempre a mesma coisa que vai.
Então também na colunata, a coluna primeira, tem um modelo que transmite para a segunda que altera todas as outras, tatá-tatá, mas é sempre a mesma ogiva que se repete, essa é a continuidade histórica.
(Sr. Guerreiro Dantas: Ela repete um ponto de unidade.)
Na sua essência, no seu, na sua substância ela é invariável, mas no modo de ela viver na alma de cada um de nós, ela tem peculiaridades. Assim como é na alma de cada indivíduo, é na alma de cada geração, é isso que enriquece o passado. A tradição é um passado, é uma perenidade em movimento, isso podiam gravar se quiserem.
(Sr. Guerreiro Dantas: É uma perenidade em movimento, ou é uma perenidade cujo movimento explicita melhor no seu conteúdo.)
É uma perenidade em movimento, primeiro ponto.
Segundo ponto, esse movimento, você diz muito bem, é explicitativo de algo que começou e que só termina o seu ciclo quando tudo for explicitado.
É, portanto, uma coisa que se enriquece, porque que explicitação é uma espécie de, se você quiser, de geração. E assim como a matriz de uma família está no patriarca, mas ela se desdobra e explicita ao longo as gerações, e quando tudo está explicitado que havia no patriarca, a família cessa, assim também uma grande obra, um grande filão da História nasce na cabeça de um ou de alguns homens unidos no mesmo ideal e depois isso vai se explicitando ao longo das gerações, até constituir uma espécie de monumento para toda a humanidade e acabou-se.
Eu acho uma beleza fazer isso assim.
(Sr. Nelson Fragelli: O São Bento tem muito disso, a união do terço e da bota é uma totalidade incompreensível para quem é de fora.)
Incompreensível não, enigmático para eles: “como que é isso?” E aí eu aproveito para dizer outra coisa hein! Também o estado religioso não é tão alheio à vida não religiosa como parece à primeira vista, porque não é só nesta dicotomia que eu apresentei que há uma coisa errada. Mas, a Revolução — faz parte do papel do demônio, ele quer assim — a Revolução misturou e fez um caos em tudo isto, parecendo ordenar com excessivo rigor, ela matou e misturou o resto de vários cadáveres, mas a idéia da Ordem Terceira é propriamente idéia. É um terceiro que é civil no século, mas que pratica o estado religioso.
(Sr. João Clá: Participa da Ordem.)
Participa da Ordem, é membro da Ordem, é muito bonito e nós ainda poderíamos apresentar outras coisas. Por exemplo, eu detesto essa espécie de enclausuramento entre artista e não artista. Então, os artistas pintam e bordam à maneira deles, e nós estamos ao lado de fora para bater palmas. A Revolução adora essas coisas. Não é verdade, entre um artista específico e característico e o não característico, existe a coorte imensa das pessoas de bom gosto, que à sua maneira introduzem o perfume da arte na vida cotidiana; eu acho isso evidente.
E, aí para vocês terem idéia total da ordem temporal como eu imagino, imagine que todos os domínios da vida vistos nessa correlação, aí vocês teriam a ordem temporal.
(Sr. Nelson Fragelli: Eu nunca tinha ouvido isto do senhor.)
É, falta de oportunidade de conversar, é preciso bem dizer também, falta de apetência de tratar desses assuntos.
(Sr. Gonzalo Larrain: Mas em concreto no caso do senhor tem algo de novo e que não é mera repetição, tem algo além da continuidade, é uma continuidade, mas é uma continuidade que projeta e faz renascer.)
É a das colunas, o exemplo das colunas é isso, e eu vou explicitar como é que é…
(…)
…respirando com seus pulmões, o ar você respira a seu modo e deixa nos seus pulmões alguma coisa que não é exatamente o que passa com os pulmões do Poli ou do Paulo Henrique, são coisas diferentes, isso é o novo que eu sem querer acrescento àquilo que eu quero conservar.
(Sr. João Clá: Se o senhor pudesse repetir um pouquinho, porque, é impossível anotar.)
Mas o que é que vocês estão protestando aí hein, meu coronel?
É uma nação nova, dentro dessa nação nova, são duas partes dessa nação, distantes, mas que se combinam e formam, portanto, uma espécie de terceiro elemento, um hibridismo rico e harmônico de coisas distantes, é o melhor hibridismo, o hibridismo forte que dá harmonia a coisas distantes, é mais completante ouviu? E esse observador sente, olha, meio de fora para tudo quanto vem da Europa e da tradição, para ver, ele novo como é que cabe lá dentro, que apetências de alma ele tem, e que coisas não são de sua apetência.
Agora, esse homem novo diz de fora para dentro, entrou para analisar e viu de fora para dentro o seguinte: aqui tem tudo, esse tudo que eu quis, é o tudo carolíngio, mas é o tudo carolíngio que é inalado por um povo novo, por uma gente nova que quer conservar aquilo, mas que vem trazendo riquezas próprias que clamam por ser ordenada por aquilo, isso dá uma beleza. Me permitam um pouco dizer…
(…)
…(Sr. Paulo Henrique Chaves: Parece que saltaram vários arcos aí.)
Quebrados.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: …esperando pela vocação do senhor para então começarmos a viver, porque esse é um outro período.)
A reviver, uma coisa é começar a viver e outra é reviver.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Mas lá não era inteiramente explicito, o senhor é que veio explicitar.)
É verdade, mas eu só explicitei em parte por ser alheio àquilo, por isso eu falei do negócio de fora, porque explicita melhor quem está fora, por isso eu falei do negócio de fora.
Agora, eu não afirmei que eu sou o primeiro a explicitar, nem nada disso; você na sua exposição confundiu duas coisas: uma coisa é explicitação e outra coisa é continuidade. Pela concepção que eu tenho, essas coisas viveram em continuidade assim, como um rio enorme que foi se tornando, foi se reduzindo e acabou num filete de água no fundo, o Amazonas na sua parte final podendo caber para alimentar a caixa d’ água de um prédio de apartamentos, e nesse prédio de apartamentos só uma torneira funciona, de maneira que o Amazonas escoa por uma torneira, mas ainda é água do Amazonas.
Assim, toda essa tradição carolíngia viveu em estado de desaparecimento, mas viveu até a Revolução Francesa; depois sobreviveu à maneira de recordação cheia de saudades e de vida, em fragmentos da mentalidade de muita gente, em fragmentos de tradições que foi na ponta de um desses fragmentos, já de fora desse…[Ilegível] …é que nós podemos ver.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: O fatinho que o senhor contou de Carlos Magno e naquela circunstância.)
Ilustra bem isso, Ilustra bem isso. Mas então, é alguém de fora que trás necessidades próprias, que trás impulsos, movimentações próprias, por mais admirador que eu seja da cultura européia, eu não sou um europeu, não tenho a mentalidade de um europeu, é uma coisa diferente, nenhum de vocês o é.
Bem, apesar de tudo isto, nós recebemos esse perfume, porque já não é mais, é o riacho que está se evaporando, nós estendemos a mão sobre o vapor deste riacho e ficamos com as gotas d’água e dizemos: o Amazonas coube nas minhas mãos.
Mas, daí recomeçou a correr o Amazonas…
(…)
…agora, aqui entra outra coisa, é que… então o que é que eu tinha feito até aquela altura? Porque trata de se descrever o homem cuja mão — estou usando uma metáfora — o vapor da água do Amazonas teria condensado algumas gotas. Um homem que nessas condições novas, com esse modo novo, etc., etc., já tinha tido uma incompatibilidade com isto que estava sendo construído pela velocidade adquirida de uma doença do organismo que Carlos Magno fundou são e que a Revolução…
E eu estava metido numa coisa onde havia restos do que ele fez e havia o câncer que comia o que ele fez, que era o mundo do meu tempo, era a São Paulinho, que já trazia em germem todas as coisas da São Paulona e todas as megalópoles modernas; portanto eu me sentia atingido por aquilo. E, portanto, eu tinha um problema que o carolíngio não tinha, que era: ser solicitado por um mundo fragmentado, dividido, posto assim numa espécie de desordem prévia, e anterior na cabeça de um homem a qualquer análise, e que eu senti que aquilo me empurrava de lados, lados e me machucava, mas eu não tinha idéia; quando eu vi aquilo, eu entendi, é uma coisa diferente, tenho todo.
Bem, então passa a cruzada, a guerra, a luta contra os bárbaros, de vida, numa elaboração intelectual, mas num trabalho de defesa pessoal; não me deixo engolir, e num trabalho de reconquista, não quero que engulam os outros; aí é a Contra-Revolução.
Bom, andando um pouco mais, tem isso, é que essa Contra-Revolução, nesse sentido da palavra, não pode ser definida sem que um elemento dela seja a idéia de restauração; é uma restauração, mas é uma restauração num sentido peculiar da palavra, que não é a reposição das coisas no mesmo lugar, pura e simplesmente,quer dizer, é, mas de outra maneira: é com outros fluxos de vida, conservadores, não deterioradores, mas germinativos, que não alteram nada, mas acrescentam, esse é o negócio.
E, portanto, uma restauração inovadora, que vocês encontram descrito, até certo ponto, naquelas palavrinhas do Livro I, desde muito jovem, etc., etc., quando eu voltei às costas para o meu futuro e resolvi dar àquele passado cheio de bênçãos o meu porvir. Com o meu porvir que eu dava ali, vinha o apelo dos séculos que vinham depois de mim e que encaminham para as rotas da História, as rotas da Providência…
(…)
…é muito bom isso, é esplêndido, esplêndido. E, isso dá a alma humana um outro sentido uma outra…
(…)
…É evidente o que eu estou dizendo.
(Sr. Nelson Fragelli: O passado que o senhor amou era o Amazonas que recomeçava a correr eram as gotas da…)
Evaporação, isso. E nisso há uma restauração, porque dir-se-ia que quando o Amazonas se evapora ele morre, não, as gotas, ele foi destilado para depois reviver, e o rio recomeça.
Quer dizer, também por causa disso, há uma coisa que confusamente, vocês todos sentiam, mas não sabiam porque que é, porque na trilogia nossa, a tradição figurava em primeiro lugar, porque não podia deixar de figurar; como é que podia? Não pode.
O que é que você está pensando, meu Gonzalo?
(Sr. Gonzalo Larrain: É que até agora eu não tinha sentido toda essa beleza da alma do senhor.)…
(…)
…Eu não sei o que é que é aquilo, aquelas quatro frases, à maneira de estrofe, é uma tentativa de verso de quem não sabe fazer poesia. Bem, há uma distinção entre futuro e porvir; eu voltei as costas para o futuro e aceitei um porvir, o que é que é esse porvir? O futuro é no sentido terreno da palavra: o meu futuro, quer dizer, o quinhão que a vida pode me dar, que eu sou apto a arrancar dela, uma realização que eu posso conseguir para mim, na lei ou na marra, eu posso conseguir de mim, e por onde eu serei o que os outros esperam de mim, a família, por exemplo, espera de mim, isso é o futuro.
O porvir não, é uma coisa muito mais alta, é a realização de algo que Deus quis quando eu fizesse, que Ele me fez conhecer como uma superior beleza de uma rota que eu quero seguir, porque eu vejo o dedo d’Ele, traçando essa rota para mim, e que é muito mais a realização da vontade d’Ele, e a minha união com Ele, do que a conquista de uma situação dentro desse mundo; é o serviço de Deus; esse é o porvir.
Ninguém me perguntou qual era naquela coisa a distinção entre o futuro e o porvir, mas eu acho que é muito precisa para quem analisa aquilo. Bem, e realmente a palavra porvir futuro, tem qualquer coisa de sofreguidão do parvenu ou do nobre ambicioso, da decadência, portanto. O porvir é uma coisa diferente.
Então, imaginem, por exemplo, um homem que, vou imaginar o quê? É um nobre em Portugal, e ele é senhor feudal da zona onde está o cabo de Sagres, de onde o Infante D. Henrique construiu a Escola de Sagres, famosa escola de navegação de que resultou o descobrimento do Brasil, com a fundação de Angola, de Moçambique, das colônias portuguesas da Índia, a entrada pelo Japão e a China, São Francisco Xavier, etc., na Escola de Sagres: naquele promontório há um porvir.
Agora, num instituto de colonização para importar algodão da Índia para a Inglaterra, para as fábricas de Newcastle e não sei o que, e de Londres, ali há um futuro, não há um porvir.
[Vira a fita]
O sentido profundo dela, o que ela é, o que ela contém, tradição é porvir, não é estagnação no passado, mas é a conservação e a restauração do passado, mas enriquecido de algo, mas de algo sumamente importante…
(…)
…eu preciso ver um pouquinho a hora, hein? Está muito escuro, são 15’ para as 3 horas, vamos até às 3.
As seqüências dos arcos. O bonito do nosso caso, porque cada uma dessas situações tem uma beleza, nessa seqüência de arcos, que é de si conforme a ordem da Providência, etc., assim como cada arco é próprio, cada situação é própria e tem uma beleza própria…
Meu filho eu não me dirijo quase a você porque dá torcicolos.
(Sr. Fernando Antúnes: Em absoluto.)
Mas, é por isso, eu tenho feito várias tentativas…
E uma é a beleza daquele que inaugura, outra é a beleza daquele que tem o mérito da fidelidade, e que aceita, faz a imolação de não inaugurar tudo, que é a pretensão, fator de todos os homens, que é a pretensão que o modernismo põe na alma de cada homem, que ele é pessoalmente o ponto de partida de uma porção de coisas, quando ele não é.
É um dos mais bonitos aspectos da alma inglesa, é exatamente esse sentido da beleza do continuar, e do continuar enquanto continuar é muito bonito. E outro é do ponto terminal que diz: aqui termina tudo, enrolam-se como pergaminhos os ares, a História acabou, chegou o Juízo e chegou a glória, chegou o castigo, chegou a justiça, é uma outra forma de beleza.
Bem, qual é a nossa posição nessa beleza? É a posição do istmo, da península de Malaca aquela península?
(Singapura)
Singapura, então é isso. Pensei que Singapura fosse uma cidade da península, vai ver que nem é na península, mas enfim, a península é em Singapura. Quer dizer, nós temos a beleza de uma fidelidade exímia que pega o passado inteiro naquilo que ele deve continuar e amorosamente faz o holocausto a ele: “eu não vou inovar, eu não vou atender os meus caprichos pessoais, eu nem quero os meus caprichos pessoais , porque eu percebo que eles são febricitações vãs; eu quero saúde e não a febre, eu quero a verdade e não o erro, eu quero a tradição e não a mania ridícula de estar inovando, eu me volto para o passado”.
Bem, mas ao lado dessa fidelidade, tem a renovação e com os elementos inteiramente novos, que têm quase a beleza da fundação, se juntam. Então, é um terminal que revive, que continua e que dá origem ao espraiar-se de uma nova península, e uma península que é quintessência da História , é o Reino de Maria, onde a História realiza a sua… então o senhor por cima das águas da Revolução a península que conduz a essa nova coisa é de uma grande beleza, é uma beleza de síntese.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: E o senhor disse que o reconstruir é mais do que o construir.)
Nessa linha é. Porque é o reconstruir com o conservar, que é uma verdadeira beleza, e aqui está então o espantosamente bonito da nossa vocação, porque é espantosamente bonito, dá para uma pessoa se abismar. O lugar adequado para terminar essa reunião seria a beira mar sentado junto aos rochedos e vendo as ondas baterem, ao menos para mim que sou um entusiasta do mar até o último ponto possível, o lugar adequado seria isso. As ondas batendo, batendo, o rochedo que resiste…
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Aí a gente vê o abismo que vai entre esse ambiente carregado de nervosismo daí de fora e a paz que reina aqui.)
É um abismo, é o contrário, é a posição frontal.
Agora nós fizemos uma conversa de profunda meditação, e a começar por mim que foi quem mais falou, e terminar em vocês, saímos repousados, eu pelo menos me sinto repousado, a gente poderia dizer: Digitus Dei hic est. O dedo de Deus está aí, não é? Isso é bonito.
(Sr. Gonzalo Larrain: Thau é isso, está definido nisso.)
Thau é isso, está definido nisso. Porque o thau é ver isso, é o ter isso, é ter a alma de nossa alma, isso é a alma de nossa alma, é o thau, é uma ação do Espírito Santo, é uma ação da graça…
(…)
…(Sr. Poli: [A] Sra. Da. Lucilia deve ter percebido algo por ocasião do batismo do senhor. Ela dizia alguma coisa?)
Não, ela se referia ao meu batismo com muito enternecimento, sorrindo, etc., mas com outras coisas de minha primeira infância ou da primeira infância de Rosée. Embora isso sim, a gente visse que ela tinha muito mais predileção por mim do que por Rosée, tinha muito disso…
(…)
…Bem, meus caros, chegamos às lindes das 3:00.
(Sr. Poli: O batismo tem algo de tradição de porvir.)
O porvir de um homem é ser batizado, e a partir disso é que se traça o porvir, o futuro é no registro civil e o porvir é no batismo, aí, aliás, a gente percebe o que é o estado leigo, o estado leigo fabrica futuros e não ensina porvir, não vale nada, é porqueira…
(…)
…Eu poderia fazer uma coisa se vocês quiserem, eu mando aquecer, enquanto eu lavo o rosto, etc., etc.
(orações)
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