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– 26/4/1986 – p.
Conversa de Sábado à Noite— 26/4/1986 — Sábado [VF37] (Augusto César)
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…Mas fica uma coisa [que] é a seguinte — nós temos que pensar nisso depois — mas organizar uma vigilância ali é indispensável. Quer dizer, foi por uma coincidência, não é por causa do fato que houve hoje. O fato que houve hoje serve apenas de ocasião, não propriamente de causa para uma vigilância. Mas há muito tempo já eu passei de automóvel ali atrás, e ali tem um entulho… Vocês, aliás, conhecem, me parece que continua a vegetação imunda, com porcaria, com tudo aquilo. Mandar limpar aquilo, jogar tudo fora, e requerer à polícia o arruamento daquilo, etc., parece que são providências urgentes, fundamentais.
Porque na atual quadra que esse terrorismo se espraia, é coisa evidente que… Bom, e sem falar do terrorismo, realmente as comunicações, as vigilâncias, hoje com esses meio de comunicar, com esses meios de tele não sei o que, tele não sei o que, ninguém sabe.
Agora, precisaríamos ter gente muito arguta e muito dedicada. Sobretudo, o que tem é o seguinte. Esse tele, ou essa bomba deve ser procurado por gente de fé. Porque gente sem fé: “Não, não tem nada… Isso não acontece nada, eu sou um grande espírito, todos os homens que eu vi, grandes, sempre eram homens que minimalizavam os perigos. Eu, portanto, vou minimalizar também, porque eu não posso deixar de ser grande!…” Esse gênero de gente não serve para…
(Sr. Gonzalo Larraín: É o habitual.)
É o habitual. E isso nós não podemos absolutamente… Não podemos ir nessa onda. Precisa de gente de fé que ache, por razões sobrenaturais, e razões transesféricas, razões de cúpula profética, é muito plausível que haja bomba. E que, portanto, saiba procurar nesse espírito.
Agora, quae est iste vir? Não é? Depois, não invente que a missão de guarda é uma missão secundária, para ele que é um intelectual, ou para ele que é um homem da mais alta sociedade, ou um homem que não sei o que, não sei o que, que não pode… É mil porcarias no meio disso.
É uma coisa que indica muito como o mundo está prostrado e acanalhado, e as dificuldades que há em a gente fazer uma coisa boa entre os bons. Porque se até os bons são assim, quanto mais os ruins! E a dificuldade de tirar isto das cabeças das pessoas é uma coisa de outro mundo! Não sei o que há… Nem tem palavras.
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor não tem nada de falsa direita. Então a pessoa tem que estar muito de acordo com o modo de o senhor ver as coisas…)
Muito temperante.
(Sr. Gonzalo Larraín: Muitos desses falsas direitas, tipo CCC1, atraem gente, e sabem que atraem, muitas vezes gente de thau…)
Gente de thau…
(Sr. Gonzalo Larraín: Porque tem um certo atrativo…)
E alguma coisa de elevado.
(Sr. Gonzalo Larraín: E o Grupo não pode ser assim.)
Não pode. E, sobretudo, exatamente isto, que nós nunca devemos estar fora da mais estrita objetividade.
(Sr. Gonzalo Larraín: E a objetividade supõe esta vigilância. Uma questão de alma.)
É, é uma questão de alma. E esta questão de alma já era difícil, e já com a perda da inocência a pessoa já prevaricou em vários pontos desses, está toda torta, e toda arrebentada, nem sei quanta coisa. E aí vem o resto.
Mas, assim mesmo, é uma beleza a gente considerar essa caminhada que vem desde 1928 até 1986; e que com esses ou aqueles inconvenientes, e prejuízos, e isto, aquilo, aquilo outro, vem tocando, vem tocando, vem tocando. E uma questão de que nós nunca falamos…
(…)
Uma mera criatura humana, que eu não conhecia a expressão de São Luís Grignion, mas [me] encontrei inteiramente interpretado naquelas palavras dele da Consagração — sur ce petit vermisseau et ce misérable pécheur — e que, portanto, Deus tem o direito de fazer de mim absolutamente o que ele quer; e de me mandar os suprimentos que Ele entender, e de fazer de mim o que Ele tem direito. E que eu ainda devo ser muito grato porque Ele me remiu, me criou, me remiu, me chamou para a Fé Católica. De maneira que Ele tem o direito de dispor de mim como entender, e eu devo achar normal.
E, portanto, devo estar com minha alma serenamente aberta para a possibilidade de todas as dores, porque se não acontecer isto, de repente Ele tem um desígnio por cima de mim e eu não estive preparado — eu não sou como uma das virgens sábias, que está com o seu entender acesso. Eu sou uma virgem louca que estava dormindo. Ele chegou e eu estava dormindo. Eu não posso fazer isso. Eu devo entender que eu devo estar disposto a sofrer tudo. Mas um sofrimento, eu desde pequeno também, não considerei uma catástrofe; considerei que faz parte do desenvolvimento natural da alma humana, que ele é necessário para o desenvolvimento da alma humana. E que eu, sofrendo, eu expiaria, mas eu também cresceria.
E que, exceto em função do sofrimento, não há sabedoria.
Uma alma que não tem disposição para toda e qualquer dor, não tem sabedoria. Ela se apega a alguns pontos, e às vezes são porcarias, e delira!… Não é capaz de fazer ordenação exata das coisas. Se há uma dor qualquer que lhe dê pânico, ela não é capaz de fazer isto. E, portanto, ela deve, com calma, estar pronta para tudo: aconteça o que acontecer, aconteceu. “Meu Senhor e meu Deus dispôs do petit vermisseau et ce misérable pécheur dele, como ele entendeu. Estava bem. A minha vida se cumpriu!”
Isso é o b-a-bá. Mas, com isso, isso dá uma grande flexibilidade de alma, dá uma grande… Tudo é natural, tudo está previsto, tudo pode acontecer. Ao pé da letra, aquilo de Santa Tereza de Jesus: “Nada perturbe, nada te espante…” Aquilo tudo que é lindíssimo, se aplica a isto. É uma verdadeira beleza.
Bem, e de outro lado, as duas pessoas mais sofredoras que eu conheci na vida, muito desigualmente sofredoras, mas as mais sofredoras, foram de longe as que eu mais admirei — Uma, é Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sagrado Coração de Jesus, e faz um com Ele, Nossa Senhora, Mater Dolorosa. E outra, muito… não tem ponto de comparação, mas eu venerei muito, e quis muito: mamãe, uma pessoa sofredora por excelência. E eu via quanto a condição de sofredor d’Ele e de Nossa Senhora, e, depois, em ponto tão menor, mas também tão autêntico, de mamãe, os tornavam respeitáveis, veneráveis, como devem ser, Eles não seriam explicáveis sem aquela dor.
De onde eu compreender que a dor tinha que vir na minha alma como dentro de um santuário, para morar dentro dela e fazer-se venerar dentro dela. Podia vir por umas formas que eu julgaria absurdo que viesse. Mas faz parte da minha dor, faz parte da minha dor.
(Sr. Gonzalo Larraín: Aparte inaudível.)
Coisa terrível faz parte da dor. Mas, isto dá uma, um fini, um achevé, um polimento à alma, que nenhum exercício de piedade nem nada dá. É a consideração Cor Jesu, láncea perforátum. Quer dizer, os homens foram com Ele a tal ponto que, depois de morto, levariam de perfurar-lhe o coração. Ele respondeu com um benefício: curou a vista de Longinus. É claro que…
(…)
Alegria por mim, eu não tinha vontade de morrer, por ela. Vim para casa normal, jantei, comi, toquei a vida. Quer dizer, nossa vida é esta.
(Sr. Gonzalo Larraín: A gente vê que o sofrimento do senhor é especial. Vamos dizer, sabemos que não é, que a vida do senhor estivesse por acabar daqui a um ano, o senhor estaria dizendo uma coisa…)
Eu sofreria muito, hein?
(Sr. Gonzalo Larraín: Acontece que as esperanças do senhor são tão grandes, todo o futuro que o senhor sempre esperou é tão impressionante, que o sofrimento do senhor não é o sofrimento clássico. É algo mais profundo.)
Meu filho, para essas esperanças serem boas e serem agradáveis a Nossa Senhora, devem ser esperanças desapegadas. Esperando com apego não é verdadeira esperança. De maneira que esperança é, é uma esperança enorme. Mas é uma esperança com desapego, de maneira que se porventura tudo isso não se realizasse, eu morreria em paz. Deus dispôs de mim como Ele quis.
(Sr. Gonzalo Larraín: Os sofrimentos não estão em proporção com as esperanças. Seriam mais duros por causa da esperança.)
Ah, não tem dúvida.
(Sr. Gonzalo Larraín: Se fosse o senhor só dirigir a Congregação Mariana, não seria tão duro.)
Não seria, não seria. Ah, não seria.
(Sr. Gonzalo Larraín: Agora, com toda a missão do senhor é tremendo.)
É tremendo, eu concordo. É particularmente tremendo.
(Sr. Gonzalo Larraín: O sofrimento é em relação inversa é esperança.)
É verdade, eu concordo. Mas é preciso aceitar.
(Sr. Guerreiro Dantas: Nas Congregações Marianas o senhor percebeu que a graça da vocação do senhor passava por lá, o senhor sentia que uma graça de Deus passava por lá.)
Sentia. Mas em parte, porque eu sentia que passava uma graça de Deus, por outro lado também que era obrigação, por fidelidade contra-revolucionária, ser a vida inteira um homem nobre. E o que se punha no meu caminho… Era a negação! Era a negação! Aqui que está a questão. Quer dizer, a negação de uma coisa menor, e a manutenção de uma coisa…
(…)
…tivesse que se entregar ao martírio, eu teria certeza de não ser levado pelo pavor? Não, não tenho. Eu ficaria apavorado. Mas eu tenho certeza que Nossa Senhora me daria força apresentando-se a ocasião. Nunca essas coisas que eu sofri — ou que sofro — se eu soubesse que iria sofrer, naturalmente não tivesse coragem. Mas, na hora em que a dor me foi pedida, eu tive coragem porque Nossa Senhora deu.
(Sr. Gonzalo Larraín: Tinha esse pressuposto.)
Tinha esse pressuposto.
(Sr. Gonzalo Larraín: É natural que o senhor tendo a missão de fazer girar tudo, todo o sofrimento venha por cima do senhor.)
É natural. É natural, mas é natural nos meus filhos que seguem meu caminho, que me acompanhem. É natural, inclusive, que eu os convide e que eles me espanquem! Não é natural para eles, mas é natural para mim, que eu encontre isso no meu caminho.
(Sr. Poli: Isto aí é o pior de tudo.)
É, a gente tem que aceitar assim.
(Sr. Gonzalo Larraín: Agora, isto é uma coisa muito contra-revolucionária.)
É muito, graças a Nossa Senhora.
Você quer ver uma coisa? Por exemplo, durante o período em que eu estive convalescendo do desastre, várias vezes eu pensei: ao menos uma coisa eu tenho, é que dentro da TFP eu percebo que as coisas não estão correndo bem, mas no que nós poderíamos chamar relações externas da TFP, nada me dá preocupação. E realmente, durante todo o período de convalescença foi assim. E dei graças a Nossa Senhora por isto.
Depois, se naquela ocasião me tivessem dito: “Você vai passar agora pelo estrondo de 75, eu teria dito: “não tenho coragem”. Quando o estrondo veio, eu tive. Olha que a coisa foi literalmente assim, hem? A primeira vez — eu tenho dito isto várias vezes a vocês João viu isto, Fernando Antúnez viu isto — a primeira vez que eu saí, eu fui para uma coisa muito pouco divertida, mas enfim, já era sair, era de ir de cadeiras de rodas, num automóvel, ao oculista, porque estava com alguma coisa, por causa da pancada que tomei na cabeça.
Bem, de manhã, antes de ir ao oculista, eu tinha lido os jornais. E tinha lido uma notícia do “Estado de São Paulo”, da qual eu deduzi que vinha todo o estrondo, pelo veneno com que estava redigido e tal, deduzi que vinha todo o estrondo. E fui para o oculista amargando esse estrondo: “Mal eu sarei, veio isto!”
Bem, mas durante o período, antes de eu sarar… Olha o que era sarar hein? No começo do estrondo, para falar no telefone tinham que segurar o telefone no meu ouvido, porque eu estava com os dois braços imobilizados, e essa mão imobilizada, e na cadeira de rodas. Quer dizer, um trapo de homem! E telefonando para Petronio Portella, e para esse, para aquele, conseguir isso… Vocês mesmo viram isto, você viu também, em quantidade.
Bom, e depois vendo a coisa cada vez piorar, cada vez piorar, não é? Tudo isto, inclusive o dia em que pegaram fogo várias imagens nossas, e que caiu a imagem de Genazzano atrás de mim, tudo isto, eu não teria agüentado. Quando foi acontecendo, Nossa Senhora foi me dando a coragem. Quando terminou o estrondo, eu estava com a minha saúde notavelmente melhorada. Isso vocês viram.
(Sr. Poli: O senhor dizia que a medida do estrondo era para o senhor não agüentar.)
Se eu não tivesse confiado… Eu estava ainda com a crise de diabetes não tão distante… O açúcar desequilibrou-se várias vezes durante o período de operação, etc., o que é natural. Bom, se eu tivesse tomado isso sem confiança, eu teria levado a breca, teria morrido!
(Sr. Poli: Tudo isto vai muito de acordo com a última reunião, em que o senhor falava da visão da Santíssima Trindade, e Deus em todas as coisas.)
Sim, quer dizer, tudo isto… Agora, a graça que vem na hora é capital para isso. É capital para isso. A coisa não se põe assim: se acontecer comigo, o que eu vou fazer? Reconheçam do fundo da alma que é normal que aconteça, que Nossa Senhora lhes dará a força no momento.
Voilà l’affaire!
Meus caros, agora…
* * * * *
1 CCC: Comando Caça Comunista.