Conversa
de Sábado à Noite – 10/12/1977 – p.
Conversa de Sábado à Noite1 — 10/12/1977
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A névoa, as trevas, o negro e as silhuetas, e seu papel na Criação * O luminoso do mistério: o melhor do conhecimento não é atingível pela razão * Somos como colibris: belos de um lado e monstros de outro - Só no céu poderemos contemplar sem egoísmo nossa beleza * A luz do Grupo pode fazer os Estados Unidos passarem a ser outra nação - Um celerado pode esmagar in ovo essa graça * “A centelha que quero acender num Habsburg é afastada por um Bourbon”
O [M?] tem impulsos primeiros para todas as coisas, ele pode dar para qualquer coisa [dentro do bem]. Tem um Urwald do outro mundo; pode dar em todas as cores do arco-íris.
*A névoa, as trevas, o negro e as silhuetas, e seu papel na Criação
Há duas espécies de brumas que se apresentam às inteligências:
Uma, a que impede ver os horizontes normais da própria natureza.
Outra é a bruma dos seres superiores à natureza do indivíduo. Exemplo, o angélico em relação ao homem. O arquétipo é um pouco bruma para o tipo. O arquétipo que não tem algo de charada para o tipo não é arquétipo. Exemplo, Elisabeth II, ela é meio burrica, mas com um mistério que não desvendamos. Há uma ação sobrenatural que protege a arquetipia. O sobrenatural e a arquetipia são normalmente vistos juntos, mas em um ou outro ponto podem ser vistos separadamente.
Conforme a arquetipia há névoa de outros coloridos. Maria Antonieta tinha outras tonalidades leves em torno de si que não eram só o prateado e o dourado. O universo tem conjunto de brumas de todas as cores possíveis que compõem a aerologia. Alias, usarmos a palavra névoa é melhor do que bruma. Podemos imaginar jogos de névoa que completam a auréola dos indivíduos de grande personalidade, como por exemplo em famílias de alma tau como o Grupo.
Nesse conjunto as trevas têm dois papeis: ela pode ser um defeito de retina que a faz ver onde não existe, ou para realçar uma beleza. No primeiro caso a pessoa acha insuficiente o esplendor das cores e quer repousar no escuro. No segundo dá um descanso que é uma necessidade nossa de apresentar o negro como valor ornamental. Exemplo, um jarro de flores que vi em Paris, no qual em um canto havia uma tulipa negra.
Por vezes um mal físico realça qualidades morais. Nosso Senhor Jesus Cristo no Santo Sudário está esmagado por males físicos, mas a força divina alí é tão grande que o mal físico realça o moral. Daí o fato de certas névoa brilharem por trás de outros defeitos. Névoa que habita no negrume e é realçada por ele. É uma beleza moral ressaltada por trás do defeito físico.
Há um terceiro valor do negro que é significar a beleza do exílio onde estamos. O fato de estarmos numa situação de dor, incerteza e luta põe a alma numa posição que não suportaríamos se não estivéssemos no exílio. Exemplo, a beleza dos salmos de David. A inocência tem formas de beleza até maiores do que essa dos Salmos, mas não essa.
Essa beleza é, então, não de retina, mas beleza de exílio, que não convém ao Paraíso. Exemplo, beleza da saudade. Não há dúvida que há beleza nela, mas no céu não há saudades. É uma beleza que nem no Paraíso teria, embora ele exceda a isso tudo.
Uma das coisas mais curiosas é tomar a silhueta e ver que ela nos dá uma impressão que a grande pintura não dá. E nos dá uma forma de beleza que não é possível tirar dos anjos de Fra Angélico. É porque os anjos de Fra Angélico parecem fora do pecado original.
Imaginar Nosso Senhor Jesus Cristo no lago de Genezaré e o sol lançando sua silhueta sobre as areias, tem uma forma de beleza que só se compreende em função da… [ilegível] … Do contrário só a silhueta d’Ele seria pobre. Poderia ser uma representação legítima, mas seria pobre. Não diria que não convém, mas decepcionaria.
* O luminoso do mistério: o melhor do conhecimento não é atingível pela razão
[Nas estaturas] humanas a silhueta às vezes dá o que a pintura não dá. Explica porque os holandeses pintaram o escuro. Beleza não é só realçar a luz. As mesclas de luz e trevas têm sua beleza. Isso afirma o mistério que a Revolução detesta. Os racionalistas não admitem o mistério luminoso e por isso têm nó com a Revelação.
Nas… [ilegível] …existe um misto de névoa e racionalismo, mas é a névoa não desvendada do olho relaxado. Enquanto racionais são racionalistas e ficam recantos de nossa alma entregues a isso. A racionalidade nos deve fazer compreender o luminoso do mistério. Podemos buscar a verdade total, mas sabendo que o melhor não será atingido pela razão. Conhecer completamente não é pegar tudo a respeito de um assunto, mas é eu inteiramente pegar aquilo. O conhecimento de meu ser inteiro é sobretudo grande à medida em que o que mais tenho de cognoscitivo vislumbra aquilo que desejo conhecer. Exemplo um caipira europeu dotado de certo senso de melodia, passa pelo Kremlin e ouve uma música e continua [a caminhar]. “Não entendi, mas que é bonito é”. O melhor dele entendeu aquilo e vê aquilo. É algo fora que reflete a Deus que ele não sabe explicar, mas que fica conhecendo. É uma fina antena que percebeu algo.
Sou contra a criteriologia do conhecimento que dá como válido o objeto que foi inteiramente conhecido. Exemplo, Maria Antonieta vista num relance dá uma noção de elegância apanhada num relâmpago. É como um buraco de fechadura através do qual se vê a sala inteira. Totus sed non totaliter.
* Somos como colibris: belos de um lado e monstros de outro - Só no céu poderemos contemplar sem egoísmo nossa beleza
No Eremo do Amparo de Nossa Senhora, enquanto ditava ao Luisinho, o João pegou um colibri e me mostrou. Estava trêmulo, engraçadinho, com um bico elegantíssimo. O bico me encantou. De outro lado notei que sua desproporção com o resto do corpo era tal que se o colibri fosse grande seria um mostro. Pensei: há aqui um mistério de estética que só pego em parte. Poderia olhá-lo por muito tempo sem pegá-lo, mas sentindo que conheci algo. Vi que as reações em mim eram dignas de serem examinadas. Tentação: não valeria mais a pena examinar as reações e não o colibri?
Cada um de nós é como um colibri: de um lado é belo, de outro é monstro. Na terra não nos é dado contemplar o lado belo em nós, mas só nos outros, quando eles refletem a Deus intensamente. Se refletem só em parte é perigoso. Aqui a vigilância é a sabedoria.
Sou concebido em pecado original e por isso digo: senti uma forma de deleite ao contemplar o colibri e que era intemperante ao sentir os efeitos que ele ia produzindo em mim. Rejeitei-a. Um homem poderia afundar-se por inteiro a partir de uma tentação assim. É preciso um cuidado enorme. Não podemos fazer isso aqui na terra. No céu cada um se conhecerá assim sem egoísmos. É tentação enorme do Tau querer apreciar-se assim na terra. Talvez muito enjolras fica mega assim. Querer [admirar?] um relance de fulgor faz perder a alma e extingue o Tau. Olhar para si enquanto símbolo do Tau, sem regozijo, pode ser.
Não… [ilegível] …si para ver o quadro inteiro. Exemplo: Mendoncinha, mosquito de [bigode?]. O… [ilegível] …marginal deu-lhe um murro e que saiu tudo errado. Mas não tem a menor idéia disso. Meteria um traje bonito e se acharia bonito. G é mais desfavorável como configuração psicológica do que física. Esses se comprazem em si do modo mais fantástico.
* A luz do Grupo pode fazer os Estados Unidos passarem a ser outra nação - Um celerado pode esmagar in ovo essa graça
Vivo de explicitar o implícito da alma. E o implícito é inesgotável. Só explicito por necessidade de luta.
A chegada do cortejo hoje em Jasna Gora estava muito bonita, em zig-zag, como que saindo do passado a procura do futuro. Visto de perfil não tem porte, mas de frente sim. Força incoercível, solene, com a irresistibilidade de um bulldozer fura-barreiras. Promessa de vitórias. Era preciso ter visto. Serenidade é aquilo. O grupo no que tem de mais representativo ali estava. Foi um flash. Depois veio o da bengalinha.
Reações das almas em vista do plano conjunto: consolação sem nome de ser o Grupo importante nos Estados Unidos, quase como um prêmio Nobel terreno. Alguns com interesse pela máquina, rindo extravagantemente do helicóptero. Lamentável. Admiração de ver o Grupo levantando vôo pela imensidão da terra e do poder norte-americano. Parecia-lhes uma águia levantando vôo num trigal. Tive um flash dourado, como se os Estados Unidos deixassem de ser o que são e outra nação nascesse com o encontro daquela luz. Uma outra nação na terra. Tive ali a confirmação da providencialidade inteira da nação. Até então não tinha sentido isso.
O Grupo estava como alguém com probabilidade de 80% de ser aniquilado se não se movesse e 90% se se movesse, mas movendo-se aniquilar o inimigo. Pela teoria dos riscos, farei. Vendendo a pele bem cara. Hoje percebi o sopro da Providência e qual o tipo de graça que será oferecido à nação norte-americana se esse sopro for aceito.
Só explicito isso tudo por necessidade, normalmente sairia robustecido da reunião, mas sem falar a ninguém. Vi isso tudo mais claro quando percebi no conjunto a graça que era dada aos norte-americanos.
Poderão nos aniquilar como quiserem. Nunca pensei que fosse lícito agravar tanto o risco. Só mesmo na boca da Bagarre. E isso tudo feito na garagem do Sábado D’Angelo…
Foi um flash para mim perceber isso. Como senti esse flash? Era como uma luz entre dourada e prateada que passava em diagonal pela nação norte-americana, do sul do Pacífico ao norte do Atlântico. Luz essa que não é a continuação histórica de nada que porventura tenha havido por lá. É como se uma legião de anjos dissesse: “Aqui passa a habitar uma outra nação”. Isso já começa a ser dado. Dado não quer dizer aceito. Pode ser esmagado in ovo por um celerado. Mesmo assim teremos visto algo na ruína dos Estados Unidos que só nós vemos. Propriamente isso é um segredo de Estado. A nação desprezada e da qual queríamos lavar a honra, foi limpa por nós.
* “A centelha que quero acender num Habsburg é afastada por um Bourbon”
No meio da Reunião de Recortes senti um gelo. O Con. que em geral não presta atenção nas Reunião de Recortes hoje prestava enorme atenção. Que será isso? Ele estava bem intencionado, mas tinha à lá judeu pegado o jogo que é feito na CAL. A finura da nação pegou a finura do jogo. Senti assim quanto é provável que a judiaria de Nova York estará assim. O ghetto se levantará. O nariz dele até ficou mais fino. Séculos de uma nação fazendo jogos assim, essa finura está nele e foi despertada como despertaríamos apetências de um francês se lhe passássemos um copo de um Borgonha no nariz. Através dele pude ver como reagirão os judeus quando virem seu jogo contrariado. Disse para mim mesmo: “Aqui está o feitio de espírito que pode levar nossa imolação”. Não há má intenção por parte dele, foi a finura do negócio que o despertou.
Houve na Reunião de Recortes dois oferecimentos recusados: pus os espíritos do RJ e do Andreas a entender o que deve ser feito em seus países, mas não quiseram entender. E uma conversa sobre esse tema só se pode ter com racionais. Se eles recusam… O Andreas recusou talvez porque presta uma atenção bissexta, particularmente em minhas reuniões.
Na saída quis fazer uma jogada em favor do Andreas dizendo a Dom Bertrand que estou pronto para falar com ele sobre a falsa direita, como ele me havia pedido. Veio outra recusa, porque Dom Bertrand havia projetado uma viagem dele ao Uruguai e se fosse ter reunião comigo, perturbaria sua ida ao Uruguai. Ele disse que o Grupo do Uruguai tem muita candura e por isso faria bem ao Andreas. E a centelha que quero ascender num Habsburg é afastada por um Bourbon. Mas voltarei à carga, verei se amanhã consigo explicar essa coisa a ele. A família pode telegrafar-lhe, de repente, para ir para a Áustria, e a ida ao Uruguai pode ser intempestiva em tudo isso.
Toda reunião tem coisas dessas. Como é grave uma reunião! Como é bonita a vida na TFP. Passam-se lances históricos. Com o Con. o que se deu foi a apetência gulosa de connaisseur de tretas, vendo a treta bem feita. Os judeus farão o jogo bem feito, como ninguém faz. Atrás disso perguntarão: quem é o autor? Quem inventou essa linguagem que corta os alvéolos? Temos que esmagá-lo com furor. E farão o mesmo cálculo que fazemos, ao revés.
A impostação do manifesto é diferente da RAQC. E é ai que entra o corte dos alvéolos.
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1) Em várias partes dessa reunião os pensamentos são muito estanques. Para isso concorre o fato de terem sido extraídas as intervenções dos participantes, mas parece ter havido também adaptações na linguagem do Senhor Doutor Plinio. Fica-se com a impressão de que certos trechos são relatos resumidos e não transcrição ipsis verbis.