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(Texto sin revisión definitiva con los microfilmes)
Conversa de Sábado à Noite1 — 26/11/1977 [RSN 011]
A união com os anjos vem do estado de inocência * A inocência primeva quando não é luz é remorso - O profetismo dá vida aos remorsos abafados * Dr. Murtinho ao Senhor Doutor Plinio: “Você é um príncipe” * O Grupo é o turíbulo que enche de incenso a Igreja e o Estado * O Reino de Maria será o domingo da Igreja
Índice
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* A união com os anjos vem do estado de inocência
(Sr. –: Logo no início da reunião é atirado um limão na sala de visita. Comentário: quem fez isso intui que algo de extraordinário se passa aqui)
Gostaria de falar sobre a angelização. Sem interlocução as idéias ficam implícitas. Quase não há interlocução no Grupo para isso.
A união com os anjos vem do estado de inocência que precisa ser mais bem definido. Nas pessoas batizadas nota-se que há veios de graças que de vez em quando se condensam em um. Até mesmo no paganismo havia condensações assim, que não eram de graças, mas eram como que a suspensão da maldição que havia sobre eles e que prenunciavam sua conversão. Na órbita privada há também disso. No paganismo há o exemplo de Ciro.
Não se espantem com o termo, mas essas condensações são uma espécie de imaculadas conceições que florescem em determinadas raças e por misericórdia brota de repente em um. Até entre os judeus houve disso. Exemplo, Judite, que prenunciava a conversão deles.
Entre os católicos existe a inocência nativa, que é de si uma comunicação grande com anjo da guarda. Não é uma visão, mas um discernimento de um espírito. É uma fulguração que seria como que de uma personalidade superior a nós, mas super-idêntica conosco. O anjo nos chama a ser como ele, que é nosso arquétipo. É uma consonância especial que se sente de alma a alma. O anjo é a figura de Deus.
A criança sente o mundo em si e fora de si, quando começa a pensar e a notar o mundo. A presença que ela sente fora de si é a continuidade de analogia de algo que é conexo com ela. Exemplo: a graça do Natal. Sente em si e fora de si. A conexão que sente fora e dentro de si é tal que não é como a que sente em relação aos seres como ela. [É algo superior].
Se levássemos a inocência ao ponto até onde a podemos levar — ponto pelo qual nossa alma chora — tudo isso se acenderia e traria uma união imensa entre nós, estabelecida só com um olhar, com um gesto. Aí até mesmo as distâncias físicas importariam menos. Estar na Europa, na China, seria tão menos importante. Exemplo, Dona Lucilia: “Meu coração o sente distante”.
O convívio do brasileiro é sem inocência. Donde a tristeza e o prosaico dele. A inocência é a base do convívio do qual ele é sedento e que não se realiza. Se tivesse uma noção da lógica e do dever mais viva preservaria mais a inocência, seria menos nervoso, mais cheio de luz e dava noutra coisa.
O que se passou comigo. Lembro-me do meu estado de alma inocente, unido aos anjos, conduzindo a Nossa Senhora. A idéia de que esse estado não era comum a todos só me veio nos últimos 4 a 5 anos [de idade???].
Minha intenção ao falar disso é tratar um belo tema. Não é intenção pedagógica de fazer amar um tema para que opere nas almas o que opera em mim. Os temas não são introduzidos com a intenção das pessoas. Desejo com isso abreviar o momento em que, familiarizados com os temas, voltem-se para a inocência primeva.
* A inocência primeva quando não é luz é remorso - O profetismo dá vida aos remorsos abafados
A inocência primeva quando não é luz é remorso. É por isso que atiram o limão aqui, é porque somos o remorso deles. Foi no remorso que atiraram o limão, porque não conseguem se reunir como nós. Mobilizamos o remorso no brasileiro. Estrondo: ódio dos remorsos inconfessados.
Um dos dons do profetismo é dar vida aos remorsos abafados. Chama-nos de radicais, porque o remorso lhes diz coisas radicais. E são coisas que nem proferimos. Sermos o remorso que divide é o começo da Bagarre. O remorso dos que atiram o limão lhes diz que estamos aqui na paz, com ornato e comprazimento. [Eles] estão cheios de movimentações e fassurada, mas sabem que não têm o que temos. Jogam o limão, dão gargalhadas para tentar abafar o remorso. Foi assim que o moço bom do Evangelho recusou o chamado e depois apedrejou Nosso Senhor Jesus Cristo. E depois o remorso o liquidou.
Temos de dar voz e vez ao remorso na cabeça deles. Nesse ponto increpamos a brasileirada toda. Há qualquer coisa de anjo em nós. E o anjo rejeitado por eles lhes bate à porta, e eles, revirados assim em sua arquetipia, se sentem de repente como Clemenceau se sentiria se se transformasse em vendedor de amendoim em teatro. Não! É loucura! — Vê então que reduziu a inocência a ferros e ela lhe aparece e o mata. A inocência extirpada tem seu lugar ocupado por um demônio atormentante ou por um anjo increpante. Exemplo: Guilherme de Almeida e o anjinho de cabeceira.
* Dr. Murtinho ao Senhor Doutor Plinio: “Você é um príncipe” - O Senhor Doutor Plinio discerne o flash do ambiente, do tema, de cada um e de todos: esse conjunto forma a reunião:
Certa vez, estava no quarto ano de faculdade, caí da cama e mamãe chamou o Dr. Murtinho para me examinar. Eu sabia que o que tinha era nada, mas a preocupação dela o fez vir. Ele era espírita veladamente. Logo que me viu percebeu que eu nada tinha. Ao chegar em minha cama olhou uma estampa de Nosso Senhor Jesus Cristo conduzindo um menino pela cabeça. Acendeu seus enormes olhos telepáticos, não ligou para a doença, olhou para o quadro e disse: “Você é um príncipe”.
Fingi não ter ouvido e o fiz repetir aquilo, porque percebia que fazia bem à sua alma. Ele repetiu. É óbvio que ele ali dizia que eu era um príncipe na ordem da graça e um escolhido em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Desola-me ver no Grupo almas chamadas à consonância, mas que se entregam à picuinha. Por ai se vê como a consonância está longe.
Discirno os flashs deste ambiente, flashs acerca do tema. É algo diferente do flash de cada um. É uma sombra luminosa maior do que cada um, saindo dele e formando algo maior do que ele. Como isso é real em todos, é o conjunto disso que forma a reunião. Não é só o conjunto dos temas que forma a reunião, mas o conjunto das presenças também. E isso se sente quando estamos de fato voltados para os verdadeiros temas. Se neste instante começássemos a falar dos próximos candidatos ou da doença de X, voltaríamos a nossa estatura normal. Precisamos ver o trans de todos.
Aliás, é isso que faz o Sr. Pedro Paulo em Madrid. Mas na hora da tentação põe-se uma qualquer coisa que não se vê isso. É possível que em determinado momento compreendamos a insanidade na qual vivemos e nos abramos para isso.
* A legitimidade é a quintessência da Contra-Revolução - O Grupo é o turíbulo que enche de incenso a Igreja e o Estado
Legitimista é uma bela palavra. Gosto muito dela. Origem da legitimidade: é a inocência primeva. Por isso se pode dizer que o mundo de hoje está imerso na ilegitimidade. Só o que deriva cem por cento da inocência é legítimo. Legitimista-inocentista. Se não fosse abuso poderíamos nos chamar de legitimistas. A legitimidade é a quintessência da Contra-Revolução. Sinto-me mais designado assim do que chamando-me pelo meu nome.
Se passássemos a usar o título de legitimistas, seria um socorro para nosso cotidiano ou se conspurcaria também? Prestaria algum serviço, mas se conspurcaria. É palavra casta. Não podemos usá-la, porque logo diriam que com isso haveria perigo do Brasil se transformar em Monarquia. Bandidos!
A inocência é o estado de alma no momento em que sai das mãos de Deus, logo após ser criada. O legitimismo é a volta às mãos de Deus de onde saímos. A expressão honra primeva de São João Crisóstomo é muito bonita. A ela voltaram os apóstolos em Pentecostes. Quando pequeno eu me sentia cheio de honorabilidade e diferente dos homens anoitecidos pelo pecado. Pela teoria dos flashs se vê que algo da luz primeira continua nos homens que receberam as Escrituras. X matou isso nele inteiramente.
Acontece que dessa conversa nós nos esqueceremos do tema ou da clave. Ou vem outra graça para nos recordarmos da clave ou se esquece tudo.
A noção do grande homem precisa ser estudada. Ele deve ser evocativo do próprio arquétipo que constitui a sua legenda para os outros. Nele se deve sentir as asas dos anjos.
O Grupo não é a Igreja nem o Estado, mas um turíbulo, parte numa e parte noutro, enchendo a ambos de incenso. Sem isso, nem a Igreja nem o Estado teriam atmosfera para viver. Seria a Igreja do Frei Paulino. “Quando os profetas se retiram o povo se corrompe”.
É como a flecha de Notre Dame, o pináculo não construído se vê nela. Tive flash ao vê-la. A meus companheiros de viagem não dizia nada. Haverá a catadura da Igreja e do Estado, mas por trás o Grupo como a legenda, honra primeva… Propriamente o que o Grupo faz é encher isso tudo de legenda.
* O Reino de Maria será o domingo da Igreja
O Reino de Maria será o domingo da Igreja. E os nossos sábados aqui já são um prenúncio do domingo da Igreja. O domingo no meu tempo era o dia flashoso onde as honras e as inocências apareciam um pouco. O Reino de Maria será a era da honra e da inocência. Grande domingo no qual a Igreja repousará, tão longamente quanto for a vigilância. Os ponteiros da duração do Reino de Maria são os ponteiros da vigilância.
Quanta coisa bonita há para comentar, mas as pessoas gostam das cidades do cartaz de ufologia. Nossos parentes reputariam esta uma conversa de loucos e trancariam numa clínica de loucos os últimos homens lúcidos da terra.
Agora vamos nos despedir e o faço com um serrement de coeur porque os entrego a essa atmosfera de fora… É sinal de que algo se aproxima. É uma página da vida que foi escrita. A Bagarre para mim será cheia de consolações abundantíssimas. Nem se fala!
Dom Elias tem mil anos de grandezas concentradas. Comunica flash.
Despedi-los me dá tristeza enorme. Finjo que acredito que tudo correrá normal. Se morássemos juntos seria sempre assim? Não. Não agüentaríamos.
* No início do Grupo três influências tendiam a fazer ver o Senhor Doutor Plinio apenas como doutrinador e impediam reuniões como esta: intalactas, negociantes e aconchegados
No início do Grupo três influências matavam possibilidades de reuniões assim: 1) intalactas; 2) negociantes; 3) aconchegados. E nós capitulamos ora diante de uma, ora diante de outra delas. A pena a esse pecado é não podermos prolongar ambientes como este de agora [a] não ser em sua2 presença.
(Silêncio)
Há imaginações e sonhos de olhos abertos que nas conversas se coíbem um pouco. Pedir a Dona Lucilia que intervenha pedindo a Nossa Senhora esse perdão. Pedir como se ela estivesse viva. O Grand Retour será precedido de um grande perdão. O Grand Pardon d’Ela é retroativo. As graças recebidas por meio d’Ela são recebidas, uma logo, e outras somente tempos depois.
Se durante a semana não comentamos esta reunião é porque durante a conversa não vemos sua honra, sua legitimidade, inocência. É penoso dizer o que direi, mas devem notar o estado de espírito dele. Mas não tenho o direito de não dizer. O unum está implícito na mentalidade. Quando a vocação está subindo esse unum é propriamente o que se pega. Esse é o ponto mais sensível e delicado. Não se pode fazer abstração da mentalidade dele. O ambiente é uma emanação dessa mentalidade. A causa do ambiente é essa mentalidade. É preciso estudá-la e o pecado consiste em não estudá-la.
As três influências citadas eram tendentes a vê-lo apenas como doutrinador. Algo disso foi dito para a comissão de estudo da opinião pública. Não se pegaria a Opinião Pública fazendo preleções sobre o tema sem ver a mentalidade. X e P eram a estrema recusa disso. Aceitavam muita coisa, menos a mentalidade, o canal de graça etc. C. [G. ?] defende que as cúpulas locais são canais de graças, mas nenhum outro.
Como é isso? É preciso lembrar do tempo em que a vocação estava em esplendor. Ver 1967. Byr [Byron?] via mais a doutrina do que a pessoa. E era assim com outros.
A brincadeira não é compatível com a honra. Certas formas de plaisanterie da velha França poderia ser, mas graças contínuas não pode ser. Se fossemos legitimistas até o fundo da alma seríamos discípulos perfeitos.
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1) Em várias partes dessa reunião os pensamentos são muito estanques. Para isso concorre o fato de terem sido extraídas as intervenções dos participantes, mas parece ter havido também adaptações na linguagem do Senhor Doutor Plinio. Fica-se com a impressão de que certos trechos são relatos resumidos e não transcrição ipsis verbis.
2) O termo sua deve se referir ao Senhor Doutor Plinio. Portanto, esse parágrafo parece ser relato escrito em terceira pessoa e não transcrição ipsis verbis das palavras do Senhor Doutor Plinio