Conversa de Sábado à Noite – 29/10/1977 – p. 4 de 4

Conserva de Sábado à noite — 29/10/1977 — Sábado [AC055] (Augusto César)

Nome anterior do arquivo: 771029--Conversa_Sabado_Noite.doc

(Descrição do furacão que ameaçou a região da fazendo de Mr. Tatton. O terror espelhado na natureza, há 8 anos não havia, satélites anunciaram, o Exército evacuou 15 mil pessoas na região, etc., e outros detalhes impressionantes. Mr. Tatton pode a Sr. José Lúcio que, em nome e como representante de do Sr. Dr. Plinio desse uma bênção em direção ao furação, durante uma cerimônia que fariam. A bênção foi dada em frente a toda a família reunida junto a um altar armado fora da casa e voltado para o lugar de onde viria o furação.

Horas mais tarde ligaram a TV para ver o que acontecia, e ela anunciava que inexplicavelmente o furação havia desviado seu rumo e se desfeito.

Um primo de Tatton que assistiria a tudo um tanto cético telefonou-lhe dizendo: “Olha, Tatton, o assunto da bênção deu certo mesmo…” Nesse instante resolveram sair para ver se o céu ainda estava nublado e ameaçador como antes, e notaram que as nuvens haviam desfeito e que um belo arco-íris aparecera.)

Isso tudo poderia ser julgado inimaginável há 5 anos. Fazendeiros do Texas que pedem uma bênção assim, com essa Fé… Diriam o contrário: em uma circunstância assim nós estaríamos rezando e eles rindo e debicando.

Mas, o meu papel nesse caso é analisar o que aconteceu com cabeça fria — que, entretanto não quer dizer cabeça cega. Então diria que é evidente que pode ser uma coincidência, mas uma coincidência forçada. Só conheço um outro fato semelhante além desse. É o caso do Alejandro Bravo no Chile. com aquele olhar. É um convite a que procedamos assim. Haverá um dia em que faremos coisas assim, e os discípulos até mais do que o mestre. A tentação então será crer só nisso e fazer tabula rasa das razões anteriores que tínhamos para crer: seria a “heresia branca”.

Seria legítimo dar essa bênção sem um certo grau de razão fundada, de que isso é o que de fato se deveria fazer? Se não fosse legítimo Sr. José Lúcio poderia atrair sobre si aquele castigo que ameaçava desabar. Isso tudo é um sinal de Bagarre. As duas leis que estão para ser aprovadas nos dois países, e que comentei hoje, são outro sinal de Bagarre. Tudo isso é muito misterioso.

A mera coincidência aqui fica arranhada. O grande pulchrum que há em tudo isso é o do desastre. Um pulchrum que não gostamos de reconhecer.

Como seria um furacão no Paraíso? Seria um desencadear de maravilhas, uma cornucópia de perfumes… Superordem, da natureza, da qual se desprende uma sinfonia. Tudo isso é muito bonito, mas só pensar nisso amolece. Temos que considerar o pulchrum da cólera de Deus enquanto cólera. A grandeza do desastre, os animais que grunhem aterrorizados… Tudo isso é belo.

Poderia haver um ciclone terrível no Paraíso para prevenir o pecado que poderia ser cometido na hora da prova.

No Céu veremos a Deus como Criador, e também os seus possíveis. Deveremos ter d’Ele uma idéia totus, sed non totaliter Vê-lo-íamos também como o Criador do Inferno. Quando se canta visibilium omnium et invisibilium, a “heresia branca” não pensa no Inferno. Mas, Deus que criou o Inferno o sustenta no ser, e de algum modo recria o Inferno a cada instante. Portanto, Ele está continuamente atormentando os demônios e os precitos que lá estão naquelas fornalhas de sofrimento indizíveis que Ele criou. Mas a “heresia branca” não considera o Inferno assim. [Considera as seguinte forma:] num mau momento da vida de Deus, num momento de cólera, Ele o criou, mas até por caridade para com Ele não devemos mencionar esse fato… É mais amoroso não pensar nisso…

Há, pelo contrário, teólogos que afirmam que, posta a Criação, o Inferno era necessário.

* * *

No Paraíso talvez Nosso Senhor Jesus Cristo não criasse a Igreja. Haveria uma união indissociável entre Ela e o Estado. O clero e a nobreza seriam uma mesma coisa, ao mesmo tempo. Nobreza clerical: duque, e ao mesmo tempo arcebispo hereditário do lugar. Haveria famílias sacerdotais. Lembram-se que a procriação não se daria dentro das misérias de hoje em dia.

A função dessa nobreza clerical seria preparar as almas para a prova, estudando as suas flutuações de modo a colocá-las o mais longo possível da queda. O amor de Deus se faz pelo cultivo do contrário ao amor de Deus. Ela orientaria a vida espiritual, mas o principal da sua função seria tratar da ordem temporal para assim atingir a vida espiritual. Quer dizer, o seu papel seria exatamente o contrário do que hoje faz o núbios. Haveria um Pontífice-Rei que a todos prepararia para a Encarnação do Verbo. E o que faria o Verbo após Encarnado? Ficaria no Paraíso? Levaria todos consigo para o Céu?

O governo do corpo seria voltado para a formação das almas e, portanto, para a formação da opinião pública. Nosso Senhor Jesus Cristo é esse Pontífice-Rei [que] trata da opinião pública por meio da graça, a rogos d’Ela; e por isso Ela é Rainha do mundo.

Haveria ordens religiosas? Existira o estado religioso? Acho que talvez houvesse até mesmo ordens religiosas com fins penitenciais para expiar as fases de menor fervor. Expiar em vista de um maior amor. Eremitas chamados viveriam a parte com votos de pobreza, obediência e até de castidade. Não teriam uma missão diferente da hierarquia clérico-aristocrática. Confabulariam com Deus sondando seus desígnios. Constituíram o governo místico do mundo e, enquanto tais, seriam profetas, com transparência angélica e união ao Anjo muito íntima. Seriam um hífem entre Deus e os Anjos.

O discernimento dos espíritos é o discernimento dos Anjos e dos demônios que influenciam os homens. E isso é precisamente o que Deus necessita para a sua batalha. Discernimento dos espíritos não é só saber o que cinco pândegos da esquina farão. É discernir os Anjos e os demônios nas almas. Até mesmo quanto dou um método de estudo, sei como ele se situa em Deus. E o que não é isso é cálculo frio de computador.

Por que não peço a Bagarre?

Por todas as razões ela é legítima e necessária. Mas é impressionante o número de teólogos da “caneca amassada” que dizem que não se pode pedir. Por essa causa não peço, e sinto que isso agrada a Deus porque o faço pelo vago receio de que possa vir a ofender o que ensina a Igreja. Assim sou eu: jamais tomaria a atitude que tomei a respeito de Paulo VI se não houvesse um bom número de santos que adotaram essa opinião. E vejo que Ela se compraz com isso. Passividade que roça o estapafúrdio. Que vontade imensa tenho de pedi-la, mas não o faço. O que dizer desse delírio dos ricos que destroem suas fortunas abrindo-se ao comunismo; os nobres que destroem a nobreza; os clérigos a clericalidade; os intelectuais que promovem o não-pensar da Revolução… Tudo isso são legiões de demônios que tomaram conta da Terra. Nós somos os Anjos-jornaleiros e eles os demônios.

Por outro lado, essa espera tem um sentido: é chegar ao fundo da abominação para que fique como exemplo para o Reino de Maria. Isso é necessário, pois se Nosso Senhor Jesus Cristo não tivesse sido crucificado, haveria hoje um mundo de gente que diria que isso jamais seria possível. Por isso essas abominações têm utilidade em chegar até aí. E não cresce na virtude aquele que não reconhece a capacidade de se fazer o mal. A abominação de hoje deverá ficar como exemplo. Hoje há, por exemplo, hara-kiri e indiferença dos que vem os outros se matarem.

Uma senhora riquíssima da alta sociedade, a propósito da queda do F. disse que ele era um santo, mas ela e suas amigas que também demonstraram simpatia por ele não incapaz de fazer qualquer coisa por ele ou para interferir nessa situação. É também uma forma de suicídio. O efeito de coisas assim no Reino de Maria será fabuloso: será uma advertência contra o pecado imenso. Era preciso ou não que tudo isso acontecesse?

Estertoro com tantas demoras. A Providência parece desafiar a nossa Fé e nós parecemos abandonados. Somos como os gendarmes que lutavam por Luís XVI foi imagem e semelhança de Deus, no que Ele faz conosco nestes dias.

Mas haverá vingança para tudo isso: agora virá condenação da Revolução como nunca teria sido possível.

Por exemplo, Luís XVI ficou mais humilhado com o comportamento dele, do que se ele tivesse reagido. O que ele fez foi de cair de costas, mas Deus tirou proveito disso e deixou a Revolução sem face. Em nosso tempo de colégio ele e Maria Antonieta eram abafados, mas hoje isso não é mais possível. Por quê? Porque a Revolução ficou sem face diante do que fez com eles. É possível até que tenham recebido graça do martírio. Sentimos horror dele, mas um fundo de respeito também. Se aqui aparecesse Luís XIV, nós nos ajoelharíamos diante dele. Mas como seria diferente o modo como ajoelharíamos diante de Luís XVI — nós o veneraríamos — e em seguida pediríamos dele um “Confiteor”.

(Sr. Martim Afonso: Mesmo na prevaricação, parece que pecado de espírito ela não cometeu. Ou pelo menos em um ponto de seu espírito funcionou como santa. O ódio da Revolução contra eles mostra que neles havia restos de inocência. Bem se vê que Luís XVI era um inocentão.)

* * * * *

O que a Providência propriamente deseja como desagravo ao pecado de Revolução, não é só a existência da TFP, mas a sua existência com o espírito que ela tem. Isso é terrível para a Revolução. Somos o câncer da Revolução e a TFP O consola de tudo quanto o mundo lhe faz. Agora enquanto falo dou-me conta que o ânimo que tenho para a luta me vem daí. Isso é anterior ação. Isso se faz pela percepção das almas e conhecendo [o] sentir de Deus. Deus confidencia isso.

A tal modo desse modo nós O consolamos, que se não fosse a TFP viria o fim do mundo. Não perseveraríamos e o mundo não subsistiria se não fosse a TFP. Meu calor em tocar a TFP vem de sentir na transesfera que ela é a reparação pelo pecado de Revolução. Se formos fiéis, daremos a Deus mais do que tudo o que o pecado de Revolução lhe tirou.

No Paraíso deveria haver uma família de almas assim que sentissem as sístoles e as diástoles do Coração de Deus em relação ao mundo. Nós somos isto. É sublimíssimo e coloca a vocação em alturas, que é difícil dizer mais.

Dou-lhes um exemplo do que é sentir o coração de Deus.

Há pouco quando falávamos de Luís XVI ocorreu-me citar um livro sobre Luís Felipe que estou lendo, escrito pelo Conde de Paris. Luís Felipe revelava um discernimento da opinião pública enorme. Ele, o “rei guarda-chuva”. Era ele que discernia? O N., o diabolo diabolorum. Só não citei porque lhes faria mal, e porque não era intenção de Deus que eu elogiasse Luís Felipe nem mesmo em ponto tão baixo. Isso é o sentir pulsar a vontade de Nossa Senhora.

Outro exemplo: quando lhes perguntei por duas vezes porque faziam silêncio após termos atingido cumes desta conversa para ajudá-los a explicitar o que sentiam. Era um silêncio de quem assistia um acontecimento maior do que um furacão. Sabíamos que algo acontecia independentemente dos efeitos. Depois desta conversa o mundo não podia continuar o mesmo, e sentíamos esse efeito singular sobre nossas almas, e sabíamos que se falássemos o efeito se atenuaria. Por isso, silenciávamos, para ouvir somente e guardar na memória.

Mas é certo que saindo daqui dissiparemos.

Por quê?

Porque o modo que se tem de perder os “flashes” das conversas é pensar bagatelas a meu respeito, é vir para a conversa com idéias no subconsciente como, por exemplo: “já é hora de trocar meu automóvel”, ou obter que ele tome posição a meu favor contra outro, em uma disputa interna.

Isso apaga os “flashes”.

Há um hábito de se aproximar de mim com coisas assim no subconsciente. E assim começamos a raciocinar com ele em função dos interesses próprios e das misérias pessoais. E então passa a ver só que o sabugo vê. Pode ser capaz, ter virtudes, mas se se aproxima assim, não tem “flashes”.

Exemplo: [S.?]. Não é lícito pegar este convite da graça e aproveita para resolver casos pessoais. Exemplo o rapaz que me põe a flâmula. Está muito bem, mas se começa a fazer aquilo para proveito pessoal e megalice, está, liquidado. 1º MG — muito convívio e poucos “flashes”.

Às vezes Nossa Senhora proíbe o convívio para que as graças não [sejam] malbaratadas. Assim é com o eremitão: longe, está em arco voltaico; se tivesse contatos, estaria mal. Às vezes o erro é vir só para se entreter, aprender coisas, ou fazer carreira. Isso é [a] causa de todas as decadências. Alguns querem usufruir do homem de salão, e aprender…

No fim desta conversa dou-lhe esse aviso a propósito do modo de tratar comigo. Noto que fazem novo silêncio: percebem que é uma hora que está vindo.

Dona Lucilia nos ajuda a vê-lo do modo certo.

[Sobre o Sr. Andreas Meran]

O apostolado com ele é sobretudo por sentir que é do agrado de Deus que tragamos um Habsburgo para a Congregação.

* * * * *