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Santo do Dia — 7/8/1967 — 2ª-feira

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Mártires persas de alta categoria social nos primórdios do Cristianismo; ante a brutalidade das penas, reagem com esplendor e desassombro; neles se confirma, o verdadeiro amor é mais forte que a dor.

* Mártires persas. Biografia * Mártires de alta categoria social * Esplendor da alma supera horror do antro * Altivez heróica ante vil suborno * Degradado na posição social, mas íntegro na Fé * A pena de si reflete falta de varonilidade * Aceitou sem choramingo, retrucou com panache * Senhor de mil escravos, torna-se escravo * Melhor morrer a não fazer apostolado * Transformado num toco, mas perseverante * Amor mais forte que a dor

Santo Hormisdas e outros Mártires

Hoje, sete de agosto, é:

festa de São Caetano de Tiene, Confessor. Ele era de uma família nobre e co-Fundador dos teatinos, uma das primeiras famílias religiosas fundadas para promover a Reforma Católica. Por singular confiança em Deus, determinou que seus religiosos vivessem exclusivamente de esmolas espontâneas. Sua relíquia se venera em nossa capela. Século XVI.

Novena da Assunção de Nossa Senhora e aniversário do Dr. João Sampaio Neto.

* Mártires persas. Biografia

Amanhã, dia oito de agosto, nós teremos a festa de Santo Hormisdas e outros mártires. O dados que eu vou ler são tirados de Rohrbacher, “A Vida dos Santos”:

Bahram V, rei da Pérsia, foi um cruel perseguidor dos cristãos. Cinco mártires de seu tempo tornaram-se particularmente famosos: Maharsapor, Hormisdas, Suenes, Benjamin e Tiago.

Maharsapor era um príncipe persa de ilustre nascimento e grande virtude. Fechado em um antro infecto, encontraram, dias mais tarde, seu corpo sem vida, ajoelhado e rodeado de luz.

Hormisdas era o primeiro da nobreza persa e da família dos Aquemênidas, que era uma família real. Chamado à presença do rei, ao lhe ser ordenado que renunciasse a Cristo, negou-se varonilmente. O soberano despojou-o de todos os seus bens e honras e, fazendo-o cingir-se somente de um pedaço de pano, condenou-o a guiar os camelos no deserto. Muito tempo depois, Bahram viu-o de uma das janelas do palácio e notou que estava queimado do sol e coberto de poeira, e pareceu comover-se. Recordando-se do que ele fora e do que haviam sido seus antepassados, chamou-o, deu-lhe uma bela túnica de linho, dizendo: “Deixa a obstinação e renuncia ao filho do carpinteiro”. Hormisdas rasgou a túnica em pedaços e atirou-a contra o rei: “Se julgastes — disse — que com estes presentes me faríeis deixar a Religião, guarde-a com a tua impiedade”.

Suenes era senhor de muitos escravos. Como recusasse renunciar o verdadeiro Deus, o rei perguntou-lhe qual era o pior de seus escravos. Deu a este último então Suenes, os outros escravos e a mulher de Suenes, obrigando–a desposar-se.

[O Senhor Doutor Plinio achou embaraçada a frase.]

Mas nada abalou o intrépido cristão.

Benjamin, Diácono, fora posto em liberdade com a condição de não falar da doutrina cristã. Mas afirmou ao rei que lhe era impossível enterrar um talento que devia dar contas. Foi morto em meio a horríveis torturas.

Tiago, de ilustre família, sendo cristão, renegou a Fé e voltou ao seu povo persa. Mas sua mulher e sua mãe lhe trouxeram de novo à verdadeira Fé. Bahram ordenou que lhe serrassem todos os membros pelas juntas. Restou-lhe só o tronco, e como ainda confessasse a Jesus Cristo, cortou-lhe a cabeça.

* Mártires de alta categoria social

Não se sabe qual destes vários matizes [mártires?] mais admirar. Os senhores estão em presença de pessoas, todas elas, de alta categoria e que tinham muito que abandonar nesta vida e que abandonaram, e abandonaram com uma espécie de ufania, uma espécie de garbo, por causa, pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

* Esplendor da alma supera horror do antro

Os senhores vejam São Maharsapor. São Maharsapor que foi encontrado — os senhores vejam a beleza da cena — num antro infecto, morto naturalmente pelos miasmas, pela asfixia, com uma luz que incidia sobre ele. Imaginem que coisa linda: entrar em algo de parecido com um bueiro, com cheiro horroroso, e, de repente, encontra, de joelhos, um mártir e uma luz que incide sobre ele. Contrastando, pela sua pureza, pelo esplendor que dele irradiava, contrastando completamente com tudo o que havia de infecto no ambiente. É uma espécie de contraste que ainda tornava mais admirável aquilo que era a alma íntegra, a alma dedicada desse mártir, e a comunicação que Deus estabelecia com ele, a ponto de o inundar com sua luz, para fazer um prodígio, para ilustrá-lo.

* Altivez heróica ante vil suborno

Os senhores têm o caso de Santo Hormisdas. Vejam que alta categoria ele tinha e até que baixa situação ele foi prostrado. Ele foi colocado como escravo, ele que era o primeiro de sua corte, e foi colocado como escravo e obrigado a conduzir camelos pelo deserto. Bem, quando o rei o chamou, ele poderia ter procurado tergiversar um pouco. Ele poderia ter procurado arranjar um jeitinho para não cair na cólera do rei. Mas absolutamente não. Quando ele viu que era intenção do rei levá-lo a apostatar, ele tomou uma atitude varonil e foi de encontro à morte. Ele pegou o traje que o rei lhe oferecia e lhe atirou no rosto.

* Degradado na posição social, mas íntegro na Fé

Os senhores vêem como isto é diferente da mentalidade moderna. Um indivíduo com a mentalidade moderna. Um indivíduo com a mentalidade moderna estando puxando um camelo, passa embaixo do palácio do rei e, se não fosse um homem íntegro, já passava com o coração pesado de saudade: “Ó palácio bem-aventurado, no qual eu penetrava revestido dos trajes da pompa que correspondem à minha antiga categoria. Ó palácio querido onde eu comia, onde eu bebia, onde era cortejado por todo mundo, onde eu privava da familiaridade do rei!”. Grandes suspiros!

* A pena de si reflete falta de varonilidade

Depois, pena romântica: “Será que ninguém tem pena de mim? Coitado de mim!”. Ele certamente tem pena porque esse gênero de gente, para ter pena de si mesmo, é inseparável. Ele certamente tinha pena de si, e a pena de si é o começo para todos os desatinos. Quando qualquer homem começar ter pena de si, tome cuidado com ele, porque ele está no bordo de toda espécie de desatinos.

Bem, de repente vem o rei. Ele olha para o rei, o rei olha para ele com semblante amável, e chama. Perdeu a distância psíquica, lá vai lá para cima e diz: “Ao menos se eu conseguir do rei de mudar um pouco de destino, ficar lixeiro aqui na capital, em vez de levar camelo para o deserto. E, depois, quem sabe se eu consigo do rei uma restauração”. Chega na câmara do rei já derretido com o rei: “Como o rei é bom! Eu, no fundo, achava que ele ia me libertar mesmo. Que bom rei!”. Quando o rei aparece, a pessoa já está meio entregue ao rei. O rei faz esta proposta. Onde está a coragem de pegar tudo e jogar na cara do rei? Quando muito, a pessoa vai para o martírio. Mas é um muito que é muito, não é? Por quê? Porque faltou varonilidade, faltou renúncia, faltou desprendimento durante o tormento. Quem não tem desprendimento durante o tormento, [não] se prepara para a tentação. É evidente.

* Aceitou sem choramingo, retrucou com panache

Agora, pelo contrário, quem vê como esse conduziu as coisas! Ele não teve a menor vontade de sair de seu destino, ele não teve a menor vontade de defender para si um bem terreno. O rei ataca. Ele ataca o rei. Ele retruca imediatamente e com uma grandeza magnífica. Ele é morto depois, mas pouco importa. Isto é que é ter panache. Panache não é um panache vazio do espadachim. Este é o panache, é com elegância, com iniciativa, caminhar de encontro à morte por uma alta causa. Pela causa das causas que é a causa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

* Senhor de mil escravos, torna-se escravo

Esse São Suenes teve um destino análogo. Ele era senhor de mil escravos e acabou escravo do seu pior escravo. Mas não se diz aqui que ele tenha sido morto. Aqui é uma forma de martírio especial. Ele possivelmente levou uma longa vida e, às vezes, uma longa vida no infortúnio, é uma prova muito pior do que a morte. Quer dizer, levar muito tempo como escravo do homem que fora o pior dos seus escravos, é uma coisa que, sobretudo nas condições daquele tempo, a gente pode imaginar o que significava. Pois bem, foi o que este se sujeitou, perseverando até o fim.

* Melhor morrer a não fazer apostolado

Mas eu creio que desses mártires todos, o mais admirável é, debaixo de certo ponto de vista, São Benjamin. Ele era diácono e fora posto em liberdade com a condição de não falar da doutrina cristã. Não pediram a ele que abjurasse; pediram a ele apenas que ficasse quieto, que não falasse mais nada. Os senhores conhecem muita gente que daria o caso de saída como São Benjamin? “Isto aqui está bom[…] se é só isso? Ó meu caro, eu vou ser tecelão, vou plantar batatas, vou fazer qualquer coisa, vou levar a minha vida. Não posso falar nada. O rei não quer, o rei me mata; eu não posso morrer. Eu não vou mais fazer apostolado. Estou desobrigado do apostolado”. Vejam até que ponto levou o zelo apostólico esse santo! Ele preferiu morrer a não fazer apostolado. Alguém dirá: “Bom, mas ele é diácono! Ele tinha obrigação de fazer apostolado”. Não sei bem. Sei que, a rigor, ele estava dispensado de fazer apostolado. Mas ele preferiu enfrentar o rei e não se conformar com essa condição. Isto é uma coisa verdadeiramente magnífica.

* Transformado num toco, mas perseverante

Por fim, os senhores têm São Tiago. São Tiago que foi serrado até o fim, tinha apenas o tronco, os senhores podem imaginar o que é serrar, e depois com serrotes daquele tempo, serrar braços e pernas. Os senhores já pensaram nisso? Serra o primeiro braço, lá vai embora, depois arranca. Depois passa para o segundo. Quando chega à última perna, o que resta desse homem? Hemorragias de todo lado, defasagens do organismo em todos os sentidos, coração batendo, cabeça cheia de sangue, ou, pelo contrário, desfalecimento… [faltam palavras] …tudo, ele ainda continua a proclamar a Deus. E então, lhe serram a cabeça. O que representa isso é uma coisa tremenda. Porque quando a pessoa sofre, por exemplo o quê? Serra uma perna, serra um braço, serra e depois acabou. Mas o recomeçar, serrar logo depois a outra perna. Quer dizer, quando a pessoa se dá conta, vivencialmente, de que vai passar por aquilo que já passou, e que tudo o que deixou de lado está para realizar-se de novo? Isto é uma coisa tremenda. Pois bem, ele enfrentou tudo isto e morreu.

* Amor mais forte que a dor

São exemplos de perseverança que nos fazem ver o amor que esses homens tinham a Nosso Senhor e Nossa Senhora, à Santa Igreja Católica. Para preferirem tudo isto, a abandonar a Igreja Católica, só um amor superlativo à Santa Igreja Católica, que nos enleva, nos encanta. Nós devíamos imaginar o estado de espírito deles, olhá-los, aquela integridade no auge da dor, afirmando:

Eu creio na Santa Igreja Católica Apostólica Romana! Eu creio em Jesus Cristo salvador dos homens! Eu creio em Deus, Uno e Trino!

E o martírio continua:

Pára ou não pára? Perverte ou não perverte?

Eu não perverto! Eu creio!

Bofetadas, gargalhadas, novas pancadas.

Os senhores podem imaginar o que isto representa e o que é a força desse amor, a força dessa união com Nosso Senhor. Como a gente daria tudo para poder apenas emergir os olhos da gente extasiados, cheios de veneração e de ternura, a um olhar destes, para, através do olhar, receber um pouco destas virtudes, receber um pouco dessa fortaleza, ou um pouco desse estado de alma. O que a gente daria por isso! Por isto aqui, nós comemoramos no martírio, neste lindíssimo martírio destes santos persas no dia de hoje.

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