Sábado à tarde – 12/9/1964 – p. 8 de 8

Reunião para o Grupo da Martim 1 — 12/9/1964 — Sábado[ER092]

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A contrariedade

da exposição referente ao gládio que transpassou a alma de Nossa Senhora, em que eu exatamente mostrava esse ponto: por que é que foi revelado a Nossa Senhora, com trinta e três anos de antecedência, que ela passaria por essa dor. Evidentemente o fundo dessa coisa está na idéia de que Nossa Senhora deveria preparar, se santificar. Ao longo de sua vida; porque apesar de toda sua santidade excelsa… Ela, ou melhor, de toda a santidade excelsa em que ela estava, ela foi crescendo ao longo da vida de santidade, ela deveria se preparar para essa hora suprema, por meio exatamente de uma meditação longa, com a antecipação de trinta três anos, de assumir uma espécie de conaturalidade com aquela coisa que é o menos natural possível ao homem. Que é a perspectiva de uma imensa dor, de uma tremenda dor, que na perspectiva de Nossa Senhora podia facilmente tomar, se fossem os aspectos sobrenaturais, o caráter de uma verdadeira catástrofe, de um fracasso. Porque humanamente falando, era o fracasso do Filho dela. E era o fracasso da própria vida dela. Porque, os senhores considerem a coisa no ponto de vista humano: uma pessoa como Nossa Senhora, é claro que essa consideração humana Ela não fazia, e nem era tentada a fazer, mas era um aspecto das coisas que não tem duvida nenhuma se afigura com uma certa autonomia no seu terreno próprio: uma pessoa que tem um filho como Nosso Senhor Jesus Cristo, quer dizer, dotado de todas as qualidades que a gente possa imaginar, e que ela sabia apreciar melhor que ninguém, por que ela conhecia até o fundo a valor do seu filho; de outro lado, ela via esse filho passar durante trinta e três anos uma vida obscura,… Pareciam completamente inúteis, perdendo-se inteiramente sem que ninguém aproveitasse, e ao cabo desses trinta anos Ele sai de casa e começa então a sua vida publica.

Ele começa a sua vida pública e começam… então se atem afinal a impressão de que esses trinta anos de espera vão desembocar numa ocasião em que as esperanças se realizem pois bem, em vez das esperanças se realizarem, dá-se precisamente o contrario. O sucesso vai subindo, mais vai subindo também uma rejeição. Uma recusa, e aquilo que deveria ser um triunfo tremendo, acaba numa catástrofe horrorosa. De maneira que o esquema é: trinta anos de espera, dois anos, mais menos, de triunfo; um ano de apreensões, um ano de catástrofes, e depois catástrofe completa. Nosso Senhor é morto, não é isso? Essa coisa, naturalmente, na alma pura, na alma puríssima de Nossa Senhora, santíssima, embora ela soubesse, Com uma fé invencível, que pelos aspectos sobrenaturais isso não era assim, isso causava nela uma dor tremenda, e esses fatos eram o que propriamente se pode chamar contrariedade; o choque com aquilo que é contrario, com aquilo que é oposto; acontecer exatamente o contrario daquilo que a gente queria, daquilo que a gente esperava, daquilo que Ela reputava, todo mundo reputaria arquitetônico. O que estava na ordem lógica das coisas não acontecia e aconteceu uma coisa que era contraria a ordem lógica das coisas.

E esse acontecer ao contrario da ordem lógica das coisas, produzindo uma trituração que a Nossa Senhora dava um pesar e um sofrimento inexprimível. Uma vez eu li eu não sei o que frei Jerônimo dirá a respeito disso-mas eu li uma temática que se discute entre os teólogos, se ela sabia que Nosso Senhor ia ser morto crucificado, ou se ela foi sabendo aos poucos, à medida que os acontecimentos corriam. Quer dizer que grau de clareza ela tinha sobre a natureza desse gládio que tinha sido profetizado para ela. Não sei se é realmente assim a discussão e esse respeito. Uma vez eu li isso. Realmente, humanamente falando, a gente pode admitir como uma coisa e outra que mais ou menos se equivalesse. Quer dizer, tanto pode ter sido revelado a ela ou era a cruz, quanto é possível que aos poucos ela fosse vendo, fosse sabendo a catástrofe, conhecendo que era cruz. Qualquer das duas hipóteses tem seu lado muito doloroso. Por que ela saber com trinta e três anos de antecedência que era a cruz, uma dor horrorosa. Mas essa dor de ir descobrindo aos poucos, percebendo aos poucos, de é, e não é; afinal é aquilo, aquela realidade tremenda que de repente ela encontra também é uma coisa horrorosa; as duas perspectivas são perspectivas horrendas.

Agora, por que faltou, por que foi necessário que Nossa Senhora tivesse isso para sua santidade? Eu disse na reunião de ontem uma coisa que é apenas uma parte do que eu imagino sobre o caso. Porque eu digo que era necessário que ela fosse se preparando para essa hora, fosse dando uma imensa aceitação para essa hora, de maneira que nessa hora ela estivesse inteiramente à altura dos acontecimentos. Isso é verdade. Mas há uma coisa mais funda, e é dessa coisa que eu queria tratar em vista do que nós falamos na ultima reunião. E a coisa é essa: ao contrario do que quer a mentalidade norte-americana da qual eu falei na reunião de hoje cedo, ao contrario do que quer a mentalidade norte-americana, o estado normal do homem não é de estar com aquela alegria despreocupada e satisfeita, de que a fisionomia do Kennedy era uma espécie de símbolo. O estado normal do homem não é, portanto.

(…).

Está inteiramente contente, ao qual as coisas todas acontecem bem, e está satisfeito e alegre na vida; e que não tem pesar nenhum.

Eu tenho conhecido algumas pessoas na minha vida, pessoas para as quais tudo corre muito bem. Eu acho que já disse uma vez numa reunião aqui que eu chego a ter pena das pessoas assim. Porque estas pessoas, quando elas vivem assim, acumula-se no fim da vida para elas uma tempestade tal, que elas morrem em condições tristíssimas. É uma verdadeira catástrofe acumulada, por onde elas carregam o que durante anos a fio elas não carregaram. E por isso é que eu, colateralmente, dou uma coisa que talvez seja o fundo, como, aliás, perseguido, perseguido, pelo receio de uma compensação a dar – naturalmente uma compensação a dar a felicidade que ele esta tendo, ele com uma espécie de sentimento de justiça imanente, de quem compreende que não é equilibrado nessa vida que as coisas corram assim, e que é uma regra que ninguém foge, e segundo a qual as coisas não é assim, ele veio aqui em ultima análise…

(…)

Eu estava dizendo, então, que há uma coisa assim, por exemplo, uma sensação de que a pessoa na vida deve sofrer, e que todos os sofrimentos aí se acumulam, e que é uma coisa horrorosa, tal, tal, tal, tal, uma espécie de sensação de equilíbrio, mas há uma coisa mais profunda, e dessa coisa eu gostaria, embora de raspão, tratar hoje aqui na reunião.

E que é a seguinte: pelo fato de o homem viver no estado de prova, de acordo com a doutrina católica, e pelo fato dos riscos que salvação da alma traz para o homem, e pelo fato do homem, além de viver em estado de prova, numa luta muito dura, que é a luta dessa vida, ele comete pecados e, portanto deve sentir tristeza pelos cometidos, ainda que não houvesse essas razões, senão essas três — acontece faça o favor hoje é o dia final. Obrigado; você já comungou? Ainda que não desse outras senão essas três razões, o fundo da perspectiva da vida humana é uma perspectiva grave e de tristezas; de tristeza porque todo homem está colocado numa situação de aborrecimento, de aflição, de contrariedade. A gente juntando a isso as desventuras que a vida humana traz para todo mundo, o que é próprio nessa vida depois do pecado original, é que a pessoa tenha um estado de espírito oposto ao do Kennedy, e que a pessoa compreenda, aqui nessa terra, a vida é, de fato uma vida infeliz. Não é uma vida feliz. Pelo contrario, ou melhor, pegar a idéia ou ilusão de uma vida feliz e cortar de uma vez, porque não é só se a gente não é firme na fé e não reconhece os aspectos duros da vida sobrenaturalmente considerados, ou só se a gente faz abstração de todos os motivos pelos quais é normal que essa vida seja infeliz.

Bem, a não ser por essa forma a gente tem que se compenetrar que essa vida é, de fato, uma coisa infeliz, e que um fundo de tristeza, é o próprio do estado de espírito do homem nesta vida. O estado de espírito do Kennedy, portanto, é um estado de espírito de irreligião e de abstrato de paganismo, que é incompatível com qualquer forma de felicidade, com qualquer forma de virtude, e que, portanto aquela alegria norte-americana e essa esperança que todo mundo tem de vir a ser alegre nessa vida é um desmentido de um dos dados da fé. Existe uma falta de fé em idealizar as coisas assim. Quer dizer, é o contrario que tem que ser visto a respeito dessa vida, e por isso essa espada de dor que havia na alma de Nossa Senhora, essa espada de dor criava para ela uma tristeza imensa, igual à amplitude de todas as outras perspectivas espirituais dela. E isso a providencia quis para ela. Como um presente; por que é assim que o verdadeiro católico deve viver.

Quer dizer, a ilusão de que a gente pode viver nessa vida que é desejável, aquele estado de espírito de alegria despreocupada, eu tenho impressão de que todo mundo, a civilização moderna estimula isso até o delírio na mentalidade de todo mundo, e que todo mundo tem no subconsciente de que isso é o normal. E isso vai tão longe que nós…

(…)

O seguinte: habitualmente só são atraentes as pessoas alegres. As pessoas que tem assim um fundo de tristeza, digno, sereno, elevado, todo mundo foge, todo mundo só gosta das pessoas alegres e que fazem alegria em torno de si. E numa reunião, numa sala, numa coisa qualquer, quem não se apresentar com ar extremamente alegre, fica isolado, porque todo mundo só quer saber de alegria. É só quer saber de alegria por causa dessa idéia de que a ordem humana natural é a ordem…

(…)

Agora acontece o que? É que a pessoa constituída nessa posição, antes de tudo e de mais nada, fica na impossibilidade de criar um espírito ultramontano. Porque o espírito ultramontano que tem três traços, é uma coisa tão rica que caracteriza, portanto nessa linha se caracteriza por uma inteira e lúcida compreensão de que isto é assim, e por uma habitual aceitação do que isso é assim.

De maneira que o ultramontano nunca se espanta demais quando lhe acontece alguma coisa ruim e nunca se alegra demais quando lhe acontece uma coisa boa. Porque o ruim estava previsto, e o bom é uma coisa que durará pouco mais cedo ou mais tarde vem algum outro aborrecimento. E não é aquela…

(…)

De uma ordem de coisas de uma forma, em que a vida passa a ficar agradável. E com isso nós temos que a pessoa que tem esse fundo habitual dentro da alma, esse fundo habitual de seriedade dentro da alma, e só é que tem todas as qualidades mestras dentro da alma. Porque não é pensativo a não ser o sujeito que sofre. Eu não acredito, em gente capaz de pensar, que não pense por que sofre, em função do que sofre e a partir do que sofre…

(…)

Passa por coisas dessas, ou coisas análogas, em que aceite essa tristeza fundamental da vida, é que pensa, é que se compenetra, é que fica sério, é que compreende, afinal de contas, o sentido profundo da vida, e é o único que pode alcançar uma estabilidade emocional da pessoa que já está preparada para tudo, que não se assusta diante de nada, que também não se afoba diante de nada, porque compreende que em linhas gerais, tudo dá numa coisa que não teria sentido nenhum se não fosse a vida eterna; que seria uma verdadeira lástima, que seria um verdadeiro horror, se não fosse vida eterna. E que, portanto, essa vida, a gente trata de viver com pode, na tristeza, com um fundo de seriedade e tristeza dominando tudo, e não procurando uma vida feliz. Procurando uma outra coisa que eu vou falar daqui a pouco, e que é a única forma de felicidade que existe dentro da vida. E é essa posição que faz também com que um membro do grupo conceba que tenha tido o glorioso infortúnio humano de ter sido chamado para o grupo.

Bem, isso vinha da idéia de que os outros podem viver felizes e despreocupados, e que eles alcançam essa felicidade e essa despreocupação que eles estão querendo. Para nós, o que explica o que nós tenhamos tido esse, aspas “áureo infortúnio” de termos sidos chamados, é que na vida acontecem coisas, para todo mundo; e para um acontece uma coisa, para outro, outra. Mas todo indivíduo tem na vida uma coisa qualquer, que é uma espécie de tragédia; e depois uma tragédia fria, parada, estável. E quando ele não tem nenhuma tragédia assim, acontece outra tragédia: que ele fica bobo. Porque o bobo é exatamente o sujeito a quem então começa – é uma tragédia – por que eu sou um bobo? Uma vez uma pessoa me dizia: eu dizia: fulano (mas não é uma pessoa aqui do grupo), você nunca tem nó com as coisas do grupo? Ah tenho, não tenho, etc e tal. Eu cheguei à pergunta que eu queria, por que eu julgava haver qualquer coisa. Eu disse: me diga uma coisa: você comigo nunca tem nó? Ele: devo confessar que tenho. Eu disse: diga qual é o seu nó. Vários nós, mas um dá o exemplo dos outros eu vou faço não…

(…)

Que eu estou falando hein? Eu disse: eu vou, faço reuniões, faço conferencias etc. E já tenho feito experiências. Primeiro: às vezes eu digo certas coisas, não produzem nenhum efeito, depois os mesmos ouvintes ouvem dito pelo senhor e dizem que foi uma coisa muito bem dita. Outras vezes eu ouço o senhor dizer uma coisa, vou ao lugar onde eu moro e digo sem ter dito que é do senhor, e ninguém acha nada de bom. Agora isso determina em mim uma tal inferioridade, que quer dizer que a coisa boa pode nascer na minha cabeça e não impressiona, nascida da cabeça de outrem impressiona. Nascida na cabeça de outrem e dita por mim, não impressiona também. Quer dizer, é uma inferioridade em mim, que é uma coisa com a qual eu não posso me resignar, e que afinal de contas, por conforto, me dá nó com o senhor; porque, afinal de contas, o que o senhor faz? Porque o conteúdo do que eu digo é o mesmo que o senhor diz? É a mesma coisa doutrina, é a mesma coisa, quer dizer, portanto, não é uma coisa tão de conteúdo, não entrara um truque dentro disso? O que é que o senhor põe dentro dessa história?

Eu não quis da a ele o fundo da resposta: eu disse: meu caro você é bobo. A questão é essa, procure não ser bobo. Você é bobo notem: eu não estou dizendo burro, por que ele, além do mais é um pouco burro, mas eu não estou dizendo burro, porque burro não tem importância, a questão é ser bobo, que é muito pior do que ser burro. Por que o burro tem remédio. Para bobo só tem remédio deixar de ser bobo não tem outra saída. E porque muito bobo alegre…

(…)

Está compreendendo? Não é até o homem de melhor gênio do mundo, entende? – mas é bobo até quando ele está enfezado. Quer dizer…

(…)

Bom não quer ter uma resignação como ele deve, sofrimento, dor essas coisas assim, que dão exatamente o porte, o sabor, a qualidade ao individuo mais ou menos [palavra ilegível] qualidades humanas; é que são aquilo que a gente chama de seriedade, e que é o pressuposto para todas as outras qualidades. Bem, essa idéia me faz adotar exatamente uma comparação…

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Nós devemos ser na vida como indivíduos que viajam…

(…)

Tristeza. Porque nós sabemos que em dado momento nós chegamos em Gênova. E é a hora do…

(…)

Em que nós vamos morrer mesmo, vamos liquidar conosco, e que Deus mata. Os senhores já pensaram uma coisa pior do que a morte? Mas um infortúnio. Eu estou deitado na minha cama, de repente estala a madeira na cabeça, e acontece não sei o que, aqueles fenômenos em ciclo.

Quando papai morreu, eu fiz longas meditações sobre a morte, olhando a morte dele. Aquele estertor, depois os médicos reunidos perto dele, olhando aquilo com uma naturalidade: não, ele praticamente está morto, esses movimentos que ele está fazendo são reflexos; ele está inteiramente subconsciente, inconsciente. Sabe-se lá? Os médicos dizem, mas ele nunca voltou para contar como estava. Agora, como é que eles sabem? E eles que sabem, eles que falam com segurança. Ele que sabe como ele está, como vai ser a hora dessa dilaceração? Quando a alma se separa do corpo? Eu sou um condenado à morte, eu tenho um susto, uma duração ignorada, porque pode vir de um momento para outro a noticia câncer no pulmão. Isso, essa que é a realidade da situação. Bem, tudo isso deve me levar a uma espécie de fundo de seriedade normal, permanente, a uma espécie de aceitação [palavra ilegível] e então, o que é que constitui a felicidade dentro da vida? Constituir a felicidade é isso. É eu fazer uma coisa que eu sei que não é gostosa. E que tem sua razão de ser, que tem conta, peso e medida, e que tem relação com o destino que eu tenho. De maneira que por mais que a vida seja pesada e difícil, ela é certa, a felicidade de estar acertando. Inclusive na coisa dura, é assim a única forma de felicidade que a vida tem.

É muito feioso. Mas é certo, faz sentido, tem até um lindo sentido e chega até uma coisa que se explica e que é algo que realiza sua finalidade. Essa sensação profunda de estar realizando sua finalidade, de estar na ordem natural das coisas direito, e que afinal o que tem que fazer está correndo como no fundo deve correr, isso é a única forma de felicidade que existe dentro da vida. Qualquer outra forma de felicidade não é assim. Essa forma de felicidade Nossa Senhora teve de modo superabundante. Ela viu a vida dela inteira transcorrer como devia ser, nos termos em que devia transcorrer etc. Nesse ponto ela foi felicíssima; mas encontrando pelo caminho dores e aflições de toa ordem, de todo jeito. Agora essa posição explica a sala do Reino de Maria, a respeito da qual oportunamente quereria fazer alguns outros comentários.

Os senhores devem ver naquela sala gente que chega lá, e olha para aquela sala e diz: que sala bonita! Ao menos por amabilidade para com os três decoradores, quatro decoradores, se diz: ah, que sala bonita! Bem, mas o forte daquela sala não é de ser uma sala bonita. É uma sala que realiza dois paradoxos, entre outros, afirmando com isso, e visando a afirmar com isso uma suprema harmonia. Aquela é uma sala que tem um fundo de seriedade enorme, um fundo de recolhimento enorme, procurando produzir nas almas aquela forma de estabilidade, aquela forma de calma que as habilita a aceitar esse fundo de tristeza que existe da vida humana. Aquela sala se poderia chamar “a sala do fundo de tristeza”. Aquela luz que entra meio tamisada, aquela espécie de dignidade composta na sala, mas uma dignidade que, vamos dizer assim, que produz um sentimento de melancolia em relação a tudo quanto na vida do homem não é assim, é diferente disso, etc. Aquela sala produz na alma de um Kennedy, um sentimento de seriedade, um sentimento de firmeza e de resolução, que o encaminha para algo que vem a ser essa tristeza. É uma sala que prepara a alma para essa posição estável de aceitação dos aspectos graves e tristes da vida.

Agora, ela é, de outro lado à sala da unidade na variedade. Os senhores encontram uma unidade enorme na sala, dentro da enorme variedade de cores, de coisas que dentro da sala intencionalmente foram postas, que é uma outra forma de uma ordem profunda, suprema, que dentro das coisas deve haver. E os senhores encontram naquela sala, o que deve se chamado, sob outro aspecto, a sala da fé. Porque é uma sala que além de nos falar, portanto, de gravidade e de tristeza, nos fala de ordem, é uma sala que só se explica com grande fé em nossa missão. Porque ou aquilo é vivido com a crença absoluta de que na hecatombe da Igreja de que nós tratávamos da ultima vez, há um papel histórico único e que vai se tornando um papel claro e indiscutível, do grupo tão pobre, humanamente falando e espiritualmente falando. Que é chegado a ser fiel nessa ocasião, e, portanto a uma grande fé em que a conjuntura histórica como nós a vemos, e que a missão histórica como nós a vemos, ou aquilo roça pela palhaçada.

Porque uma simples congregação Mariana, ou que um simples grupo de estudo se permita fazer uma sala para suas reuniões, ou aquilo é uma palhaçada, ou revela algo de profundo, de real, que está muito, além disso…

(…)

Ora, não podia haver disposições para nós nos reunirmos, assistirmos as reuniões de sábado, do que nós estarmos impregnados desses três elementos concomitantes: quer dizer, uma grande disposição para carregar a cruz de nossa vida, a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas com a alegria que essa cruz traz condigo, que é a alegria da vida acertada, da coisa que é como devia ser e que está caminhando para seu fim. E em segundo lugar, uma grande convicção da ordem profunda e metafísica das coisas que se afirma ali; em terceiro lugar, um grande ato de fé no grupo. Isso na missão do grupo, na vocação do grupo. Essas são as disposições que nos tiram da nossa vidinha quotidiana, e que contrastam com o estado de espírito de week end. Que tão facilmente invade os nossos sábados. Quando a cidade começa a fazer week end e começam as mulheres à por aquelas calcinhas e os homens a por short e aquelas camisetas e tomar aquele ar…

(…)

Que caracteriza o week-end hoje em dia. Nós devemos fazer trabalho em sentido contrario. Nos vamos viver os grandes dias da semana. São os dias da solenidade, são os dias da seriedade; sobretudo, a reunião de sábado, para os membros da Martim. E então aquela sala exatamente nos ajuda a ter a compenetração disso, para que as reuniões sejam mais plenamente abençoadas por Nossa Senhora. Nós devemos nos imbuir disto, pensando bem no seguinte: não há nada de mais bonito do que uma população, por exemplo, de algum lugar da Europa, que viva, em pleno século XX, ao pé de seus monumentos, amando seus monumentos, com o espírito de seus monumentos, e na fidelidade a esse espírito. Nada é mais triste do que uma população européia do século XX, vivendo aos pés de um monumento estupendo, interessada no bar que vende coca-cola em frente ao monumento e nos turistas que chegam, inteiramente indiferente, enregelada e farta para aquele monumento.

Há uma espécie de firmeza de alma. Que se forma no abuso de certos favores da providência, e que é uma coisa tremenda. Em ultima análise, é mais fácil fazer com que Veneza seja admirada por um colombiano, por um equatoriano, do que por um veneziano do século XX, intoxicado de espírito moderno. Quem já viu aquilo, que já recusou aquilo, que já arranjou um meio de se defender contra o impacto daquilo e que quis ser moderno dentro daquilo. Nós não devemos aqui fazer o papel de veneziano moderno. Nós devemos pedir a Nossa Senhora que por tudo nos poupe disso, e que nos de uma espécie de continua receptividade; porque se é para aquela sala ser vivida num espírito de banalidade e de trivialidade, melhor teria sido para ela que não tivesse sido feita. Agora, vamos pedir a Nossa Senhora que nos de uma oportunidade de uma sacudidela. E que nas nossas próximas reuniões de sábado, pelo menos no décor daquela sala, possamos vir para a reunião com uma idéia mais de equilíbrio e ainda mais nítida do que é o estado de espírito que nas reuniões de sábado, naquela sala, nós devemos ter. Isso seria o que eu queria dizer. Não sei se algum dos senhores queria perguntar algo a esse respeito. Caio, Plínio, Castilho, Paulinho, Sergio, Fabio, Luizinho, Mendonça, Arnaldo, Frei Jerônimo. Bem, vamos fazer cinco minutos de intervalo, exatamente cinco minutos e nós retomaríamos e eu sugeriria que nós partíssemos daqui, a partir das dez para a sete está bem? Bom, então vamos tomar a noticia…

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1 Estava como Reunião de sábado à tarde. Nos Sábados à tarde eram realizadas reuniões para os membros do Grupo da Rua Martim Francisco, na Sala dos fundos da mesma sede; e, no domingo, para os membros da Pará, na Sede do Reino de Maria, da rua Pará.