Reunião
Normal — 16/05/1964 — Sábado [rn - 260]–
– p.
Reunião para o Grupo da Martim1 — 16/05/1964 — Sábado2 [rn - 260]
Nome
anterior do arquivo:
* A forma de escrever do Fillion deixa uma certa sensação de desordem — Comparação entre Saint-Simon e Froissard
Bem, meus senhores, eu não trago, eu não tenho tido tempo de ler, a não ser duas leituras… [inaudível] …, habitualmente eu alimento a segunda parte da reunião com o que eu estou lendo. Eu não tenho tido tempo de ler senão duas leituras que não se prestam diretamente a uma comentário na segunda parte da reunião. A primeira delas é o Fillion. O Fillion não se presta a comentários, porque são tantas coisas singulares, etc., mas meio, formam assim, vamos dizer, como aquela casa lá no Rio de Janeiro, que vende pedras, perto da Glória, um bric-a-brac de pedras, não é? Algumas das quais bonitas.
No Fillion tudo é bonito, mas enfim forma um certo bric-a-brac que eu tenho impressão de dar uma certa sensação de desordem. É um aspecto da vida de Nosso Senhor, um comentário sobre a vida de Nossa Senhora, logo depois um fenômeno qualquer de Judas Macabeu, e assim quer dizer, forma uma espécie de desordem, é um pouco fluido, eu não sei como industrializar… [inaudível] …Froissard.
E o Froissard é um cônego da Idade Média que tem crônicas, tem crônicas interessantíssimas realmente, mas que só podem ser lidas. Não há outro remédio. É como Saint-Simon que eu nunca pude aproveitar para ler, porque ou o sujeito lê inteiro ou não lê nada. É inferior ao Saint-Simon, mas tem algo primaveril que o Saint-Simon não tem. Saint-Simon tem qualquer coisa de outonal; é um lindo outono, e o Froissard tem qualquer coisa de uma tosca primavera. Mas, enfim, há luzes de primavera no Froissard, mas realmente há trechos enormes que eu só poderia, só poderia ler aqui, enfim, não vai.
De maneira que então eu começaria, já que estamos tratando disso, a dizer o seguinte que uma coisa é bric-a-brac, não é, quando ela não se une numa espécie de ordem profunda. Mas há morceaux choisis que podem ser muito diversos, mas que se unindo numa espécie de perspectiva só, não constituí um bric-a-brac.
* O Fillion expõe os fatos da vida de Nosso Senhor de uma maneira que é contrária à da visão “heresia branca”
Dentro do Fillion há uma porção de coisas que absolutamente não constituí bric-a-brac, se a gente compreender que cada uma dessas coisas que estão ali é uma, eu anotei com a seguinte preocupação: são coisas que não figuram na versão comum da “heresia branca” a respeito de Nosso Senhor, e que de um, ou melhor, de um lado ou de outro, constituem um desmentido da “heresia branca”.
Na maior parte das coisas são isso. E que, portanto, em toda essa visão da “heresia branca”, que é uma visão homogênea, e que sistematicamente em cada ponto deforma uma nota, a gente pode compreender que haja uma leitura do Fillion que seja sistematicamente em cada ponto, destruindo um aspecto da “heresia branca”. Que serão pontos muitos diversos, mas eu tenho a impressão — eu não sei se me engano — que se eu dissesse em cada ponto: Olha aqui, isso é contra a “heresia branca”, ou contra tal coisa assim, ou isso vem a propósito de tal coisa, tal coisa, não desse demais sensação de desordem.
Mas eu pergunto se isso é bem exato ou se receiam que de uma certa sensação de desordem. Porque nesse sentido haveria dentro do Fillion coisas de tout beauté para considerar e eu tenha dois volumes anotados, nesse sentido. Não vou — não os ameaço com os dois volumes —, mas eu poderia tirar alguma coisa de dentro, que seria interessante. Bem, ou acham que fica muito caótico uma experiência para a próxima vez, como é que se deve considerar isso?
(Sr.–: … [inaudível] …)
Não, eu daria isso quando… [inaudível] …, eu pretendia, quando terminada essa questão do sofrimento, dar o Fillion na primeira página, na primeira parte da reunião, ou deixa-la para a segunda quando não houvesse cometário político e houvesse uma coisa mais importante. Porque o comentário doutrinário do Fillion é muito mais leve, apesar de tudo, do que esse da primeira parte.
Não é? Então minha pergunta era exatamente, hoje, se teriam algum comentário político que queriam que eu fizesse. Mas antes eu queria perguntar essa coisa do Fillion: Achariam interessante fazer uma experiência? Isso causa algum problema? Como é que é a questão? Eu teria um comentário do Fillion, sugerido pelo Arnaldo, e que poderia dar até hoje, se não houvesse comentário político a fazer. Mas eu dou preferência ao comentário político. Isso iria assim, ou querem me sugerir qualquer outra fórmula?
(Sr. –: Isso se presta para a primeira parte?)
Presta-se, sim.
Presta-se, porque são todas na linha do Primeiro Mandamento, compreende? E de uma alta compreensão de uma, por exemplo, de certas coisas que o Fillion tem. Ele indica dois grandes acontecimentos que marcam o pórtico de entrada da vida pública de Nosso Senhor. Depois há um ou dois — eu não me lembro bem porque não cheguei até lá, mas eu veria, naturalmente, se eu fosse fazer um comentário — que marcam o encerramento da vida pública dEle.
Não sei se Frei Jerônimo lembra quais são. Bem, mas é muito conforme a uma série de coisas imaginar a vida pública de Nosso Senhor como um todo ordenado, até na sua seqüência dos fatos, e glorificado por essa circunstância particular de ter um pórtico de entrada com duas pilastras e um pórtico de encerramento com duas pilastras. É uma nota arquitetônica da vida dêle que fica muito acentuada. Não é uma sucessão de fatos não obedecendo a uma espécie de [ordem] sistemática, não é isso, quer dizer, mas a “heresia branca” gostaria que fosse uma sucessão de fatos não obedecendo a uma [ordem] sistemática. É, em todo caso, muito contra o espírito dela isso sistematizado assim.
Agora, por que a “heresia branca” não quer? A gente poderia fazer um comentário. Que beleza existe neste sistema? O espírito humano afeiçoar-se a gostar sempre a dessas coisas quando tem essa ordenação. Quer dizer, há uma série de coisas que dizem aí respeito ao amor de Deus, e que nesse sentido são muito interessantes, que poderiam muito servir para a primeira parte da reunião. Não seriam diretamente de formação moral, que é do que eu tenho tratado quase exclusivamente, mas seriam quand mede de formação moral, atendendo o Primeiro Mandamento.
* “O Fillion me ajudou poderosamente para entender a aproveitar os Evangelhos”
(Sr.–: Para a gente meditar a vida de Nosso Senhor, é algo fundamental.)
É evidente. Não, eu confesso o seguinte: que o Fillion me ajudou poderosamente para entender a aproveitar os Evangelhos. Porque numa coisa onde eu não chegou a perceber um fio, uma estrutura etc., ela pode ser constituída das sublimidade mais enternecedoras, ou mais empolgantes que a gente possa imaginar, mas o meu espírito não se satisfaz inteiramente. Enquanto não houver um fio uma estrutura e eu não compreender o contrapeso e a medida coisa, eu compreendo que a cosia possa ser excelente, eu acho até que isso possa ser uma espécie de super-exigência de minha parte; mas enfim, eu por enquanto, pelo menos, a tenho.
Exatamente. Eu bancaria o Adão tal qual. Quer dizer; “Olha que bonita pêra!” Bom, come a pêra e depois? Quer dizer, enquanto eu não chegar ao ponto que a maior felicidade do homem na terra consiste em entender, e entender a realidade não física das coisas, está compreendendo? Arquitetônico. Não vai.
(Sr.–:… [inaudível] …)
* O Sr. Dr. Plinio gosta de entender a arquitetura dos fatos, de compreender o fio da meada
Pelo menos para mim. Não é que eu não compreendo. Por exemplo, a ressurreição de Lázaro é um fato de tal maneira bonito que se impõe à admiração independente de qualquer arquitetura. Pois bem, mas há uma coisa qualquer que enquanto isso não for encaixado numa arquitetura eu não sei funcionar.
É, está claro. Não, e depois enquanto eu não encontro o fio de meada de uma arquitetura, eu funciono como burro. Porque não entendo a coisa , não vai eu faço papel do que, do… [inaudível] …está compreendendo? Por quê? Porque não encontrei o fio. Depois de encontrar o fio da meada, enfim, a gente vive. Mas antes, não. Bom então eu imagino que isso possa ir para a próxima reunião, eu dou assim e pergunto se hoje existe algum comentário político a fazer. Se gostariam.
(Sr.–: … [inaudível] …)
Como é, meu Caio?
(Sr.–: … [inaudível] …)
Os dois no mesmo dia, como? Ah, o comentário político e o do Fillion?
(Sr.–: Não, não…)
Como é, Arnaldo?
*_*_*_*_*
1 Estava como Reunião Normal. Nos Sábados à tarde eram realizadas reuniões para os membros do Grupo da Rua Martim Francisco, na Sala dos fundos da mesma sede; e, no domingo, para os membros da Pará, na Sede do Reino de Maria, da rua Pará.
2 Concluímos que a reunião sobre Fillion era sempre na primeira parte baseados na informação presente no final da “640613-1Reuniao_Grupo_da_Martim_Sabado__Fillion”: “Quereriam tratar de mais algum assunto? Nós teríamos mais meia hora.” E a reunião seguinte tem 10 páginas; o equivalente a meia hora de exposição aproximadamente.