Coação
financeira — p.
Coação financeira: o novo sistema de governo.
Terminada a conversa com o Dr. Plinio Xavier e o Dr. Luiz Nazareno, não se tendo chegado a nenhuma conclusão válida, separamo-nos em um clima de grande tensão. Até então em nenhum momento os membros da Martim pediram a mediação do Sr. João Clá para solucionar o problema, o que era sua obrigação fazer, dado o papel dele no Grupo e sua condição de encarregado do São Bento, reconhecido por eles mesmos publicamente e por escrito.
Surpreendentemente, algumas horas depois, recebe ele do Dr. Plinio Xavier, o fax transcrito a seguir: inaugura-se o novo sistema de governo da diretoria estatutária da TFP, uma vez fracassados os intentos anteriores de desestabilização do apostolado do Sr. João Clá, o que já é do conhecimento geral.
Urgente
São Paulo, 12 de outubro de 1997
Festa de Nossa Senhora Aparecida
Caríssimo Sr. João,
Salve Maria !
É com suma dor que constatamos que a revolta-motim do Sr. Ramón León consumou-se, assim como sua expulsão definitiva da TFP, por insubordinação grave e ato de aberta rebeldia à autoridade constituída.
Em conseqüência, caso ele não saia da Sede de Jasna Gora até o meio-dia de amanhã 2a. feira, 13 de outubro, seremos constrangidos a que outras severas medidas sejam tomadas automaticamente e a terem vigência a partir daquela hora.
É notório que a atitude dele é coonestada pelo Sr. E com isso é-nos doloroso constatar que o Sr. tornou-se o fautor de divisão na TFP.
Com efeito, sem uma palavra do Sr. ao Sr. Ramón León este já teria deixado dignamente Jasna Gora e a harmonia ter-se-ia restabelecido.
Assim foi que na 2a. feira passada, quando da primeira vez disse-lhe que ele deveria abandonar o posto de encarregado de disciplina e deixar a Sede de Jasna Gora indo para outra Sede da TFP, não só reconheceu ele que havia realmente falta de sintonia entre ele e o responsável por aquela Sede, nosso caríssimo e tão dedicado Dr. Luizinho, como ele mesmo acrescentou que ele deveria sair daquela Sede por uma questão de honra. Foi somente após ter tido conversa com o Sr. que inflectiu ele sua atitude optando por ali permanecer, pondo-se em estado de aberta revolta.
Não deixa de surpreender o singular senso de justiça do Dr. Plinio Xavier, para o qual bastam simples suposições, saídas de sua imaginação, para fulminar com as mais severas penalidades suas vítimas. Legítima defesa para ele é sinônimo de "Revolução Francesa", ou de "revolta-motim". A autoridade, nunca pisoteada pelo Sr. Dr. Plinio, de que estão investidos outros encarregados de setores da TFP, como o Sr. Kallás ou o Sr. João Clá, inexistente. Constatando-se que as provas e argumentos apresentados não correspondem à realidade, ou não são válidos, terá o Dr. Plinio Xavier a lealdade de voltar atrás e reconhecer seu erro?
Se portanto, até a data e hora acima indicadas, não deixar ele a Sede de Jasna Gora, é com constrangimento e dor que somos levados a preveni-lo de que severas medidas começarão a ser tomadas. À primeira delas, impele-nos nossa consciência.
Com efeito, há mais de 3 anos que unilateral e liberalmente, por iniciativa de Dr. Caio e do Cel. Poli, acrescentamos a cada mês à transferência de verba ao São Bento ─ coletada por eremitas do São Bento-Presto Sum e Saúde ─ um elevado montante extra. Fazíamo-lo até aqui na certeza de estarmos colaborando com a obra do Senhor Doutor Plinio.
Se o Sr. Ramón León não desocupar aquele local da TFP até o prazo acima indicado, confirmar-se-á que essa verba está sendo desviada das intenções com que ela foi liberalmente concedida.
Assim sendo, estará essa verba, a partir do meio-dia de amanhã, suspensa, definitiva e irrevogavelmente, caso o sr. Ramón León não tenha desocupado a Sede de Jasna Gora. Prevenimos pois que, nessa penosa hipótese, jamais, portanto, esta verba poderá ser restabelecida.
Quase se torna supérfluo ressaltar o chocante contraste entre o novo sistema de governo do Dr. Plinio Vidigal, todo ele argentário, chegando até o extremo da chantagem, e os procedimentos paternais do Sr. Dr. Plinio...
É-nos penoso igualmente ter de lhe dizer que outras medidas igualmente graves seguir-se-ão, de diferentes ordens, se tais atos de rebeldia continuarem.
Uma vez que foi expulso da TFP, saindo de Jasna Gora não poderá o Sr. Ramón León ser acolhido em nenhuma sede do Brasil. E qualquer outra TFP que o acolher pôr-se-á "ipso facto" em estado de rebeldia em nossa família de almas com as conseqüências que isto comporta.
Constrangidos ─ acuados mesmo ─ a tomar medidas tão severas, não nos move senão o desejo o mais entranhado de que a ordem e a hierarquia sejam escrupulosamente respeitadas no seio das TFPs, oásis de Contra-revolução neste Mundo onde infelizmente não vigora senão o "non serviam".
Envio-lhe esta em nome de todos os provectos que a fazem sua.
Que o Senhor Doutor Plinio, o varão da sacral hierarquia e do sumo amor à ordem, nos guie e inspire nesses gravíssimos momentos.
in Jesu et Maria !
Plinio Vidigal Xavier da Silveira
Lamentavelmente o amor do Dr. Plinio Xavier à ordem e à hierarquia não se manifestou nos casos de Campos e de Spring Grove. Nem quando, em vida do Fundador, se tratou de defender sua autoridade. Mas este último ponto seria tema para outro livro, bem volumoso: "A pesada Cruz do Fundador"...
Se os membros da Martim tivessem tomado mais a sério os ensinamentos do Fundador de forma a estarem consoantes com seu espírito, certamente não produziriam tão lamentável peça como o texto acima.
Não posso deixar sem um reparo importante a referência a uma verba que "unilateral e liberalmente" o Dr. Caio Vidigal e o Cel. Poli teriam "concedido" ao São Bento e Praesto Sum, há mais de três anos. Ora, não se poderia encontrar termos mais distantes da realidade para referir-se a tal verba.
O que aconteceu foi que, em 1992, o setor de coleta de donativos do caixa central da TFP brasileira estava inteiramente falido. A ponto de ter o Sr. Dr. Plinio afirmado, segundo contou na ocasião o Cel. Poli, que era tão grave a situação financeira da TFP, que deveria ser fechada, e só não o fazia porque confiava na proteção de Nossa Senhora. Em vista disso, o Dr. Caio Vidigal propôs ao Sr. João Clá um acordo, pelo qual seria desmontada a propulsão de donativos dos êremos São Bento e Praesto Sum, e os eremitas passariam a propulsionar as duplas do Êremo de Nossa Senhora da Divina Providência. E ficou acertado que, a partir do momento em que a coleta atingisse um determinado valor (que corresponderia a um orçamento básico), o dinheiro que entrasse além desse valor seria dividido entre a caixa central e a dos Êremos São Bento e Praesto Sum. Assim foi feito, a situação financeira da TFP se estabilizou e até hoje as duplas do Êremo de Nossa Senhora da Divina Providência são propulsionadas pelos eremitas do São Bento, alcançando muito bons resultados.
Ao fax do Dr. Plinio Xavier, o Sr. João Clá respondeu com estas linhas:
Êremo de São Bento, 12 de outubro de 1997
Caríssimo Dr. Plinio Xavier,
Salve Maria!
"Je suis troublé!" Os Srs. não me disseram uma palavra até o presente momento a respeito de tudo o que está se passando lá, em Jasna Gora. O que sei, veio-me por vias indiretas.
Apesar de não aceitar as acusações que me são feitas ─ nem mesmo as AMEAÇAS, aliás totalmente injustas ─ pôr-me-ei a campo para atender sua "amável" solicitação devido ao respeito e gratidão que lhes tenho e sobretudo pelo bem da união entre todos nós, tão desejada e várias vezes enunciada por nosso Fundador e Pai. Rogo-lhe rezar para que eu seja bem sucedido nessa tarefa, pois o Sr. mesmo sabe não ser ela tão fácil.
Recomendando-me às valiosas orações de todos, despeço-me,
in Jesu et Maria,
João Clá
Após enviar essa resposta, o Sr. João Clá entrou em contacto telefônico comigo. Comuniquei-lhe que, após ter conversado com o Dr. Luiz Nazareno na tarde daquele dia, já havia decidido abandonar a casa.
O Sr. João Clá aconselhou-me no mesmo sentido, ou seja, que atendesse o desejo manifestado pelo Dr. Luiz Nazareno.
Os Drs. Duca e Kallás ofereceram-se para me ajudar nessa difícil situação e foram buscar-me de automóvel na 2ª feira de manhã. Eles haviam tomado conhecimento da existência de uma orientação explícita do Sr. Dr. Plinio, no sentido de que nunca deveria hospedar-me sozinho num hotel. O Dr. Duca ofereceu-me, então, acolhida em sua residência.
Alma generosa, sempre muito elogiada pelo Senhor Doutor Plinio devido ao seu caráter afetuoso e abnegado, merece de minha parte uma especial menção nestas páginas a fim de agradecer-lhe a caridade catolicíssima com que vem me tratando neste período de abandono e até posso dizer, perseguição.
Rogo a Nossa Senhora que lhe retribua ao cêntuplo tudo o que ele está fazendo por mim. E que sirva a atitude tomada por ele para modelo de todos, dentro da TFP.
A caminho da Rua Traipu, o Dr. Kallás e eu deixamos o Dr. Duca num consultório médico onde ele tinha marcado uma consulta com um oftalmologista. Essa consulta ─ na qual deveria ser decidido se o Dr. Duca se submeteria a uma nova intervenção cirúrgica ─ por causa dos delicados exames especializados, com anestesia, demorou quatro horas. Após isso, Dr. Duca dedicou o resto do dia a realizar várias perícias de sua especialidade, já previamente marcadas. Por tal motivo, em compreensível estado de cansaço, só à noite deixou um recado na secretária eletrônica do Dr. Plinio Xavier, explicando-lhe como ele e o Dr. Kallás tinham procedido, acrescentando que gostariam de conversar com ele no dia seguinte.
Surpreendentemente, o Dr. Duca foi acordado, às 7 horas da manhã de 3ª feira, por um telefonema do Dr. Plinio Xavier, no qual este, aos berros, exigia a minha saída imediata da casa dele. Em seguida, chamando ao fone o Sr. Kallás, fez a mesma exigência, ameaçando-o com punições imediatas e indefinidas caso não fossem atendidas suas imposições.
É importante ressaltar que há cerca de 20 anos a casa da Rua Traipu não é mais sede. Convém lembrar que durante algum tempo o Sr. Dr. Plinio transferiu o MNF para lá, a fim de que dele pudesse participar o A.X. da Silveira, que por sua conduta moral havia sido afastado da TFP e proibido de freqüentar qualquer sede da entidade. Atualmente, na casa da Rua Traipu funciona uma empresa do Dr. Duca, na qual emprega dez pessoas não pertencentes à TFP, entre os quais alguns ex-membros da entidade...
Não será levar longe demais o âmbito da autoridade que o Dr. Plinio Xavier se atribui, o querer mandar na intimidade da casa de um outro?
Creio que se torna cada vez mais urgente definir claramente esta questão da autoridade, sob pena de agravar o regime de atropelos e absurdos que só aumentará o caos na TFP.
Soube-se, de fonte certa que, para a solução deste impasse, não tendo sido possível ao Dr. Plinio Xavier entrar em contacto com o Dr. Caio Vidigal, procurou "conselho" com o Sr. F. Antúnez, o articulador de boa parte destas brilhantes iniciativas, o qual "sugeriu" que se exigisse a minha saída da casa do Dr. Duca...
Depois desse telefonema matutino, houve a seguinte troca de fax entre o Dr. Plinio Xavier e o Sr. João Clá:
FAX DE PLINIO XAVIER PARA O SR. JOÃO CLÁ
14/X/1997
Caríssimo Sr. João
Salve Maria!
Cumpre-me informar-lhe que, no domingo, por volta das 24 hs., os Srs. Kallás e Duca vieram ao 4º andar para pedir autorização para ajudarem o Ramón León a sair de Jasna Gora, a qual foi concedida. E pediram também para recebê-lo na Traipu, o que, por razões óbvias, foi negado.
Esta noite o Sr. Duca deixou recado, em minha secretária eletrônica, pedindo que lhe telefonasse para tratar do caso Ramón. Telefonei às 7 hs. da manhã. Ele me informou que o Ramón, alegando razões espirituais, dissera que não podia ficar em hotel. E que ele, Sr. Duca, o acolhera na Traipu. Como o Sr. Duca tem obrigações profissionais que o impedem de providenciar qualquer coisa referente ao caso nesta manhã, chamei o Sr. Kallás.
Dei ao Sr. Kallás o prazo até 12 hs. de hoje para que o Ramón saia da Traipu. Disse ao Sr. Kallás que estarei no 4º andar até às 12:30 hs., para que ele me comunique a saída do Ramón dentro do prazo concedido.
In Iesu et Maria
PLINIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA
P.S. ─ O Sr. Kallás acaba de comunicar que o Ramón já está num hotel.
O Sr. João Clá respondeu com as seguintes palavras:
FAX PARA DR. PLINIO XAVIER
Caríssimo Dr. Plinio Xavier,
Salve Maria!
Muito lhe agradeço a informação que o senhor teve a bondade de me enviar hoje pela manhã. Continuemos a rezar pedindo o auxílio e intercessão de Nossa Senhora para o bom sucesso deste e de tantos outros assuntos.
In Jesu et Maria,
João Clá
Uma vez mais se constata a aplicação do critério, tão contrário à justiça, de "dois pesos e duas medidas". Ainda há poucos meses o Dr. Plinio Xavier mandou renovar o contrato de locação do apartamento onde mora, em Curitiba, à custa da TFP, o Sr. Francisco Pinhata, enquanto à própria Sede da entidade nessa cidade, onde se realiza florescente apostolado, foi negado pela caixa central qualquer tipo de ajuda financeira!
Transcrevo abaixo o pedido feito pela referida pessoa e a solícita resposta do Dr. Plinio Xavier.
GFN PARA SR NÉLIO DE FCO. PINHATA
29-04-97
Caro Sr. Nélio, Salve Maria!
Dr. PX disse que poderia renovar o contrato do apartamento que vence agora dia 25/5. Já falei com o proprietário e ele manteve o mesmo valor.
Gostaria que o Sr. providenciasse a documentação e me mandasse para providenciar as assinaturas dele como do fiador.
Era só isso. Reze por nós.
Muito obrigado,
Salve Maria!
Na mesma folha, logo abaixo do grafonema, pode-se ler:
Dr. Plinio
Salve Maria
Peço-lhe o favor de ratificar a informação supra, do Sr. Francisco Pinhata, para prorrogarmos o contrato em referência.
Grato.
Edson
Por fim a resposta do Dr. Plinio Xavier em que ele mostra uma generosidade que, no meu caso, infelizmente, não se manifestou.
Sr. Edson
Renovar. Não há precedente no grupo de se expulsar gente deste geito (sic). Renovar só por 1 ano.
ID
PX
20/5
"Alienus factus sum fratribus meis et peregrinus filiis matris meae" 1
Mal poderia imaginar eu, quando em minha alma brilharam os primeiros fulgores da vocação e dei um sim irrestrito ao chamado do Fundador, que um dia me encontraria em tão trágica situação: considerado um estranho na casa de minha própria mãe!
É bem verdade que uma vocação como a nossa tem de passar pelo crivo purificador da provação do absurdo, mas também é certo que nestas circunstâncias, por mais que as aparências falem em sentido contrário, nunca faltará o auxílio da Providência. Foi esse o exemplo que nos deixou nosso Fundador.
Contribui para aumentar a solidão, destes meus primeiros dias de exílio, o receio de retaliações da diretoria estatutária da TFP brasileira sobre aqueles que manifestarem solidariedade comigo. Porém o isolamento favorece a reflexão, e posso dizer com o profeta: "Tornei-me como um homem que não ouve, e que não tem na boca palavras com que replicar. Porque em ti, Senhor, esperei, tu me ouvirás, Senhor, Deus meu". 2
Este meu forçado exílio num hotel do movimentado centro da cidade de São Paulo leva-me, pois, a compulsar esclarecedoras diretrizes e doutrinas dadas por nosso Pai e Fundador, bem como a alinhavar alguns dados e comentários sobre os acontecimentos que convulsionaram a nossa "famílias de almas" nestes últimos dois anos.
1Tornei-me um estranho para meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe (Sl. 68, 9)
2Sl. 37, 15-16.